quinta-feira, 19 de maio de 2022

O pequeno mensageiro

O povo dizia: “O bichinho fala sozinho...”

Ficava fincado numa grumixameira.

Sabia prosear com cada passarinho.

Um dia sumiu e atiçou muita faladeira.

 

Fartamente procurado na redondeza.

Pior, não acharam rastro, nem cheiro.

Era amigo dos bichos e tinha sageza.

Com o tempo foi visto no despenhadeiro.

 

Rezadeiras suplicavam a não perecer.

Os homens subiram ligeiro a cavalo,

Tinham de chegar antes do escurecer.

Logo viram o pequeno correr num estalo.

 

“Vem cá, moleque!” ― gritou o raivoso.

Assustado correu pra beira do abismo.

Falou outro: “Vai tomar surra, teimoso!”

O menino pulou e voou livre ao lirismo.

 

Ficaram de olhos arregalados de medo.

Das nuvens surgiu um sinal da deidade

E a lua cheia revelou o grande segredo:

Só há sentido viver se houver alteridade.

 

E o anjo fez a emoção jorrar das janelas.

 

                      Renato Luiz de Oliveira Ferreira

 

 

 

 

 

 

 

 

   




 

     

 

 


Nenhum comentário: