segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Reflexões sobre a obra de René Magritte

A arte por ser subjetiva não reflete apenas a representação do mundo na visão do artista ou a capacidade deste através de sua habilidade e técnica, de brotar a sua ideia. A arte também representa um estado de espírito que marca o instante do artista e sua busca em conceber através de uma linguagem os seus sentimentos e sensações frente às suas experiências, resultando em uma imagem (obra de arte) em plena harmonia com o mundo sensível, com caráter estético, de forma a despertar o clímax, uma sensação involuntária de emoção ao seu apreciador, provocando uma catarse.
Esta mimese do mundo real que a arte transporta para o utópico de forma atemporal é que faz René Magritte recriar a realidade, isto é, conforme mostra Johnny Alf na música Eu e a Brisa: “[...] buscando um sonho em forma de desejo... [...] o inesperado faça uma surpresa e traga alguém que queira te escutar, e junto a mim queira ficar”.  Assim, o apreciador se encanta ao ver a tela “Perspicácia”, onde o artista olha para um ovo, mas projeta sua imagem além do tempo, pintando o futuro, um pássaro. Uma prova de que o artista pode retratar qualquer tempo verbal.
Na pintura “Tentando o impossível”, Magritte utiliza a fenomenologia através da sua consciência e experiência pessoal, pois a percepção do artista tem intencionalidade dirigida para o objeto. Neste caso, a pintura em homenagem à sua mulher imortaliza o seu objeto de desejo (o modelo). Assim, para o apreciador há uma perspectiva natural de visualização apenas do objeto pintado, porém, para o artista há uma perspectiva fenomenológica, pois ultrapassa a lógica do mundo real para ir de encontro à consciência do objeto, colocando-se em um “novo mundo”, porém sem negar a existência do real, isto é, um processo de libertação através da imagem, além do mundo material (transcendental).
Portanto, o artista consegue um equilíbrio na exposição de sua obra, de forma material e incorpórea. Magritte leva o apreciador a enxergar a vida ao avesso, da mesma forma como acontece no filme “O curioso caso de Benjamin Button”, onde uma pessoa experimenta a vida ao contrário, isto é, nasce velha e vai a cada dia ficando mais jovem. Este também é um caso impossível no mundo real, mas que na mente do artista passa a ter um sentido possível e utópico de engrandecimento da vida, causado pela experiência estética e ontológica que leva à fruição artística.



Renato Luiz de Oliveira Ferreira


NOTA

Artigo apresentado no Fórum de Estética do curso de Filosofia da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) em outubro de 2016.