O trabalho escrito
pelo filósofo Platão, com o tema: “O Mito da Caverna”,
conhecido também pelo nome de “Alegoria da Caverna”,inserido na
obra “A República”, mostra exemplos de como o Homem pode se
libertar da condição de escuridão, à qual o torna refém de si,
através da luz da verdade. Esse trabalho foi inspirado em Sócrates,
morto por expressar seu pensamento, mostrando um mundo de maneira
diferente à imposta aos povos de sua época.
O principal objetivo
de Sócrates era apenas de mostrar uma forma de superação da
ignorância; uma passagem gradativa do senso comum enquanto visão de
mundo e explicação da realidade para o racional, sistemático e
organizado, buscando as respostas para as ações humanas
providenciais para a existência do universo, tal qual expôs o
contemporâneo José Saramago no seu livro: “Ensaio sobre a
cegueira”.
A temática da
cegueira é retratada pela literatura de forma metafórica ― mesmo
quando se trata de um cego verdadeiramente. Mostra aqueles que
“veem”, mas não enxergam.
Saramago mostra a
cegueira como uma epidemia, à medida que as personagens vão cegando (uma a uma). O que “veem” não são as trevas, mas uma brancura
infinita. Uma virtualização sobre a falta de visão do ser humano
diante da realidade que o cerca. Isso não é mais um retrato em
branco e preto, e sim, colorido, do mundo moderno.
A sociedade olha, mas
não enxerga o óbvio, acostumou-se a conviver com a miséria, a
violência, o preconceito, a falta de amor ao próximo, a ser
enganada pelo jogo político, pelos profetas mercenários, pelo
sistema econômico, pela busca desenfreada de bens materiais inúteis
para o seu crescimento incorpóreo. A ética é deixada de lado em
nome do prazer e da ambição, mesmo que tenha de “engolir” o
próximo, conforme cita Augusto dos Anjos no seu poema “Versos
Íntimos”: “O Homem, que, nesta terra miserável, mora, entre
feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”.
Galileu Galilei
mostrou através da ciência, a possibilidade de enxergar além do
tempo. Essas observações ocasionaram a quebra do paradigma
geocêntrico e uma mudança radical de visão do mundo vigente até
então. Tal fato trouxe ao pensamento científico a ideia de que para
gerar conhecimento é preciso observar, experimentar, calcular,
raciocinar.
As adversidades do
mundo têm de ser vistas de outras formas para a diminuição da
desigualdade entre os povos. [...] Só se pode viver perto de outro,
e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor.
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.
(Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas).
Enxergar também é
sentir, ouvir, falar, cheirar, tatear... Com a junção dos sentidos
será possível uma visão espacial do mundo e do próximo ― do
quântico ao mais infinito. Lembrando sempre de seguir em frente para
descobrir novos horizontes, e utilizar a logosofia1 para a
solução dos problemas sociais.
Portanto, o Homem
moderno tem de aguçar a sua curiosidade sensorial e entender de que
não é possível viver só. Um ótimo exemplo é a citação de
Mario Sergio Cortella, no seu livro: “Qual é a tua obra?”, da
frase do ex-presidente da IBM para a Itália, Luciano de Crescenzo:
“Somos todos anjos de uma asa só. Só podemos voar abraçados uns
aos outros”.
Renato Luiz de Oliveira Ferreira
1 Doutrina ético-filosófica fundada
pelo pensador argentino Gonzáles Pecotche (1901-1963), e que tem por
objeto ensinar o homem a chegar à autotransformação mediante um
processo de evolução consciente, libertando assim o pensamento das
influências sugestivas.
Referências:
ANJOS, Augusto dos.
Eu e outras poesias, 3ª ed. Rio de Janeiro: Livraria São José,
1971.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São
Paulo, Editora Ática, 2003.
CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra?. São
Paulo: Editora Vozes, 2007.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2º Edição, Nova
Fronteira, 1986.
PLATÃO. A República. Trad. de Albertino
Pinheiro. 6ª Ed. São Paulo: Atena Editora, 1956, Livro VII.
POKULAT, Luciane Figueiredo. Um breve olhar sobre
a cegueira sob uma ótica filosófico-literária. URI - Universidade
Regional Integrada. 2008.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas.
São Paulo: Editora Nova Fronteira, 2001.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006.