As Revoluções
Liberais, o Marxismo, o Anarquismo, até o sonho de voar, levaram o
Homem em busca da liberdade em todos os aspectos da vida. As
tentativas de imunidade fizeram gerações morrerem em busca do
direito de escolha. Muita coisa mudou, mas o Homem ainda continua
“preso” às vaidades que o torna refém de si mesmo.
O filósofo, escritor,
músico e político, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), no seu famoso
discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, mostra como
o Homem passa de um ser bruto a um lapidado, na maioria das vezes
tendo de suportar a imbecilidade humana que provoca a desigualdade.
Rosseau ensinou ao mundo os caminhos da liberdade.
A luta de parte da
sociedade contemporânea é fazer com que o Homem liberte-se das
amarras insensíveis que o aprisiona, tendo como a principal delas a
intolerância ― incapacidade de enxergar, reconhecer e respeitar as
diferenças, seja de crença, opção ou opinião. Há a necessidade
da conscientização de todos, de respeitar os pontos de vista
opostos. O preconceito enraizado inibe o crescimento do Homem e furta
a sua liberdade. Um exemplo mais recente é a homofobia. A
incapacidade de aceitar a opção sexual de um indivíduo leva grupos
insensíveis a agressão física e verbal. Hoje está cada vez mais
na cara não apenas o racismo, mas também, o ódio e a violência
contra o menos favorecido, a mulher, a criança, o artista, o
homossexual, o idoso, partindo até para uma questão de preconceito
regional.
Ocorreu na cidade de
Alagoinhas, na Peça “Eróticos”, um trabalho contemporâneo que
procurou trazer ideias e visões modernas, tal qual à da poetisa,
dramaturga e ficcionista Hilda Hilst (1930 - 2004) que reinventou o
erotismo e a arte poética. Mise-en-scène1: houve
um beijo entre as personagens, ― um “escândalo” para todos,
mulher beijando mulher. Resumindo, uma das atrizes foi hostilizada
nas ruas da cidade. Esqueceram que o artista não tem sexo. A falta
de visão do mundo moderno prevaleceu, a atriz desistiu da peça ―
triste cena. “Foge por um instante do Homem irado, mas foge sempre
do hipócrita” (Confúcio).
A arte foi e sempre
será um dos meios mais nobres de conscientização para o respeito
às opções de cada indivíduo. A educação por si só não basta,
é preciso sair também da cegueira do ego. Sigmund Freud define o
ego sob o ponto de vista físico, como a energia defensora da
personalidade, fazendo com que a consciência fique livre de ameaças
inconscientes. É preciso democracia em todos os aspectos, com
respeito às diferenças, para caso não haja uma atração entre os
opostos, pelo menos exista deferência.
Portanto, o Homem
moderno precisa fazer um cotidiano mutável; é preciso descobrir
novos horizontes, entender o novo, usar a percepção sensorial,
organizando-a e interpretando-a para uma melhor convivência no seu
meio. Usar o conceito de gnosiologia2, procurando
orientação e conhecimento do mundo tal como ele é, sem distorção
da realidade. Conforme escreveu a escritora Evelyn Beatrice Hall,porém, atribuindo a frase a François-Marie Arouet, conhecido pelo
pseudônimo de Voltaire: “Não concordo com uma única palavra do
que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-la”.
Um ser para ser livre tem de ter a alma nua, desprendida de todos os
laços que o impeçam de voar.
Renato Luiz de Oliveira Ferreira
1 "Movimentação em cena”, em francês. Teve sua origem no teatro clássico.2 Ramo da filosofia que trata da teoria do conhecimento e a sua validade em função do ente conhecedor, buscando a origem, a natureza, o valor, as suas formas, possibilidades e limites.
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