quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Entre a liberdade e o cárcere

As Revoluções Liberais, o Marxismo, o Anarquismo, até o sonho de voar, levaram o Homem em busca da liberdade em todos os aspectos da vida. As tentativas de imunidade fizeram gerações morrerem em busca do direito de escolha. Muita coisa mudou, mas o Homem ainda continua “preso” às vaidades que o torna refém de si mesmo.
O filósofo, escritor, músico e político, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), no seu famoso discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, mostra como o Homem passa de um ser bruto a um lapidado, na maioria das vezes tendo de suportar a imbecilidade humana que provoca a desigualdade. Rosseau ensinou ao mundo os caminhos da liberdade.
A luta de parte da sociedade contemporânea é fazer com que o Homem liberte-se das amarras insensíveis que o aprisiona, tendo como a principal delas a intolerância ― incapacidade de enxergar, reconhecer e respeitar as diferenças, seja de crença, opção ou opinião. Há a necessidade da conscientização de todos, de respeitar os pontos de vista opostos. O preconceito enraizado inibe o crescimento do Homem e furta a sua liberdade. Um exemplo mais recente é a homofobia. A incapacidade de aceitar a opção sexual de um indivíduo leva grupos insensíveis a agressão física e verbal. Hoje está cada vez mais na cara não apenas o racismo, mas também, o ódio e a violência contra o menos favorecido, a mulher, a criança, o artista, o homossexual, o idoso, partindo até para uma questão de preconceito regional.
Ocorreu na cidade de Alagoinhas, na Peça “Eróticos”, um trabalho contemporâneo que procurou trazer ideias e visões modernas, tal qual à da poetisa, dramaturga e ficcionista Hilda Hilst (1930 - 2004) que reinventou o erotismo e a arte poética. Mise-en-scène1: houve um beijo entre as personagens, ― um “escândalo” para todos, mulher beijando mulher. Resumindo, uma das atrizes foi hostilizada nas ruas da cidade. Esqueceram que o artista não tem sexo. A falta de visão do mundo moderno prevaleceu, a atriz desistiu da peça ― triste cena. “Foge por um instante do Homem irado, mas foge sempre do hipócrita” (Confúcio).
A arte foi e sempre será um dos meios mais nobres de conscientização para o respeito às opções de cada indivíduo. A educação por si só não basta, é preciso sair também da cegueira do ego. Sigmund Freud define o ego sob o ponto de vista físico, como a energia defensora da personalidade, fazendo com que a consciência fique livre de ameaças inconscientes. É preciso democracia em todos os aspectos, com respeito às diferenças, para caso não haja uma atração entre os opostos, pelo menos exista deferência.
Portanto, o Homem moderno precisa fazer um cotidiano mutável; é preciso descobrir novos horizontes, entender o novo, usar a percepção sensorial, organizando-a e interpretando-a para uma melhor convivência no seu meio. Usar o conceito de gnosiologia2, procurando orientação e conhecimento do mundo tal como ele é, sem distorção da realidade. Conforme escreveu a escritora Evelyn Beatrice Hall,porém, atribuindo a frase a François-Marie Arouet, conhecido pelo pseudônimo de Voltaire: “Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-la”. Um ser para ser livre tem de ter a alma nua, desprendida de todos os laços que o impeçam de voar.

Renato Luiz de Oliveira Ferreira
1 "Movimentação em cena”, em francês. Teve sua origem no teatro clássico.
2 Ramo da filosofia que trata da teoria do conhecimento e a sua validade em função do ente conhecedor, buscando a origem, a natureza, o valor, as suas formas, possibilidades e limites.

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