O povo
dizia que brincava sozinho
Ficava
fincado numa grumixameira
Sabia
prosear com cada passarinho
Um dia
sumiu, atiçou muita faladeira
Fartamente
procurado na redondeza
Pior,
não acharam rastro, nem cheiro
Era
amigo dos bichos e tinha sageza
Com
tempo foi visto no despenhadeiro
Rezadeiras
suplicavam a não perecer
E os
homens subiram ligeiro a cavalo
Tinham
de chegar antes do escurecer
Logo
viram pequeno correr num estalo
“Vem
cá, moleque!” ― gritou o raivoso
Assustado
correu pra beira do abismo
Falou
outro: “Vai tomar surra, teimoso!”
O menino
pulou e voou livre ao lirismo
Ficaram
de olhos arregalados de medo
Das
nuvens surgiu um sinal da deidade
E a lua
cheia revelou o grande segredo:
Só há
sentido viver se houver alteridade
E o
anjo fez a emoção jorrar das janelas
Renato Luiz de Oliveira Ferreira