terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Pretérito Perfeito

Senti saudade de um tempo que "não vivi"
Fez falta porque foi bom
Foi bom porque valeu a pena
Valeu a pena porque sorri
Sorri porque fui feliz
Fui feliz porque amei
Lá bem longe... onde plantei minha arte
Foi assim... A vida é um vai e vem retado
...Nasce, morre, renasce...
                                                                                      
                                                                               Renato Luiz de Oliveira Ferreira

domingo, 7 de dezembro de 2014

Releitura

O livro relido...
Saudade de um tempo me invade
pra ser revivido.

         (haicai guilhermino)
 Renato Luiz de Oliveira Ferreira



Observação: o haicai é chamado de "guilhermino" em homenagem a Guilherme de Almeida que estabeleceu as regras fundamentais para a composição desse estilo poético.


sábado, 29 de novembro de 2014

Fotografia

A foto é um momento
que para o tempo, que cala...
Chama um sentimento.

      (haicai guilhermino)
Renato Luiz de Oliveira Ferreira

domingo, 23 de novembro de 2014

Desejos Ardentes

A chuva a molhar
o seu corpo junto ao meu,
o amor, nosso olhar...

    (haicai guilhermino)
Renato Luiz de Oliveira Ferreira

Ao meu poeta Manoel de Barros

Partiu o poeta da simplicidade. Voou para novos horizontes porque a vida continua... A matéria vira semente e, a alma (o afluente), transborda no rio principal chamado imortalidade.


 Renato Luiz de Oliveira Ferreira

Dia de Feira

Os lírios brancos, bálsamos ardentes

Calor no peito que aquece o coração

Os saltimbancos, fábulas, serpentes

O olhar suspeito, lento, varre a estação

Seu cheiro, margaridas, grito do cantor

O brilho do Sol na sua pela morena:

Mata as feridas e a fome de um captor

Você, meu girassol-do-campo, obscena

Quero os seus lábios, sussurro, tremor

O meu brunido terno, o cravo, o batom:

Asas dos sábios, magia, luz néon, clamor

Sua voz, gemido rouco, soa em semitom

É dia de feira, do ás, do ponto de encontro

Pinguços, vendedores, amigos, amantes

O orixá, a freira, o choro, o desencontro,

Jogadores, ventríloquos e alto-falantes,

O chá, jabá, água, farinha, feijão e a fé

A rã, a laranja, tem até o som da sanfona

Não quero mágoa, só amor, cama e café

Linda a sua franja... Tchau, até pra semana

                                                          
                                                    Renato Luiz de Oliveira Ferreira  
                                            (Alagoinhas, primavera de 1982)                                                                                                               

domingo, 8 de junho de 2014

Águas Mansas

Vou encontrar um oásis
Neste deserto
Que está o nosso amor
 
Vou procurar águas mansas
Nesta tormenta de dor
 
Quero lhe dar um tempo
E ir à Lua pra ver
Se a Terra é mesmo azul
 
Maré, maremoto,
Maremoto de amor
 
Turbilhões de desejos
Aonde você for eu vou

Renato Luiz & Dedé Soares
Letra da música Águas Mansas

quinta-feira, 27 de março de 2014

Uma questão de saúde e algo mais


A situação da saúde no Brasil é grave, mas a culpa não é apenas do governo federal (presidente Dilma Rousseff) ― conforme muitos acham, por desinformação ―, mas também, dos estados, pois recebem a verba do SUS e têm a responsabilidade de distribuí-la. Os governos da União, dos estados e dos municípios são obrigados a realizar uma gestão eficiente dos serviços públicos, mas não fazem.
Os estados são governados pelos seguintes partidos: o PSDB 8 estados, o PSB 6, o PMDB 6, o PT 4, o PSD 2 e o DEM 1. Em todos eles a situação é a mesma, os governos não conseguem um atendimento eficaz em saúde, educação, transporte e segurança.
Do jeito em que estão as coisas as pessoas têm de reclamar mesmo; assim as mudanças acontecem, porém, a crítica precisa ser de forma imparcial. Colocar a culpa apenas no poder Executivo é um erro, pois também há os poderes Legislativo e Judiciário; não esquecendo que, o poder mais importante para as mudanças que o país precisa é o Legislativo, pois é quem fiscaliza o Executivo, vota as leis orçamentárias, e, em situações específicas, julga a conduta de seus membros, do Presidente da República, entre outras atividades.
Voltando à questão da saúde, os melhores planos públicos do mundo são os da França, Canadá, Reino Unido, Suécia e Espanha. Saiba que nestes países não há a desigualdade existente no Brasil.
Mesmo com toda a deficiência o SUS ainda é superior ao sistema de muitos países, além de ser copiado por alguns. Por exemplo, nos EUA não há plano de saúde público. O presidente Barack Obama está tentando criar um para a população carente. Apesar de todo o esforço, não consegue porque a oposição não quer. É a famosa politicagem.
Conforme informa o Instituto de Defesa do Consumidor - IDEC: “Está enganado quem pensa que o SUS se resume a consultas, exames e internações. O sistema hoje faz muito com poucos recursos e também se especializou em apresentar soluções para casos difíceis, como o atendimento aos doentes de AIDS e os transplantes.”.
O IDEC ainda enfatiza: “[...] Por outro lado, os planos privados de saúde, que atendem 35 milhões de brasileiros, estão longe de representar a solução para a saúde no Brasil. É ilusão achar que os planos prestam serviços de qualidade. Além de custarem caro, muitas vezes negam o atendimento quando o cidadão mais precisa: deixam de fora medicamentos, exames, cirurgias e muitas vezes dificultam o atendimento dos cidadãos idosos, dos pacientes crônicos, dos portadores de patologias e deficiências”. Fonte: O SUS pode ser seu melhor plano de saúde / Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. 2. ed., 3.ª reimpr. – Brasília: IDEC, 2003, p. 7.
Os doentes e os idosos, na visão dos planos de saúde, já são comparados a “carros batidos”, sendo melhor opção os jovens e sadios, pois dão menos prejuízos.
Para os planos de saúde, diferentemente do SUS, só tem direito ao plano privado quem pode pagar, sendo que a sua finalidade é o lucro. Quem recebe os melhores serviços é quem paga mais, os idosos pagam mais caro, doentes sofrem restrições e precisam pagar mais caro para terem atendimento, há carências de até 2 anos, só realiza atendimento médico-hospitalar, há planos que não cobrem internação e Parto, não cobrem exames e procedimentos complexos, em geral, os planos não cobrem doenças profissionais e acidentes de trabalho, não têm compromisso com prevenção de doenças, aposentados, ex-funcionários, ex-associados perdem o direito ao plano coletivo com o tempo. Isso tudo para quem pode pagar ou tem direito pelo empregador.
O maior problema do SUS ainda é a corrupção, e a mesma não é apenas dos governos, mas também de alguns funcionários. Basta cada pessoa lembrar das recentes reportagens a respeito de médicos que marcam o ponto e abandonam o local de trabalho para irem aos seus consultórios particulares. Muitos desses médicos são contra a vinda de médicos cubanos para o Brasil alegando as mais absurdas e preconceituosas justificativas.
Num regime democrático cada pessoa escolhe o seu candidato, isso faz parte do Estado de Direito. Se o eleito fará uma boa administração só o tempo dirá, pois em todos os partidos há problemas de corrupção. Por exemplo, enquanto o PT teve o seu mensalão, o PSDB e o DEM também tiveram, com Eduardo Azeredo, Cláudio Mourão, Walfrido dos Mares Guia, Demóstenes Torres, entre outros. Não esquecendo dos demais problemas do PT (Petrobras), PSDB (caso Alstom) e muitos outros que são divulgados diariamente. A sociedade não suporta mais isso.
O problema, conforme comenta o cientista político Alberto Carlos Almeida em seu ensaio ‘Amnésia eleitoral’ do livro "Reforma Política: Lições da História Recente", editora FGV, está na falta de fiscalização do eleitor; muitos não conseguem lembrar em quem votou. Almeida ainda revela que, 71% dos eleitores esquecem em quem votaram para deputado federal quatro anos antes e outros 3% citam nomes inexistentes. Essa amnésia começa cedo: dois meses após a eleição, 28% já não se recordam de seu candidato a deputado federal, e 30%, em quem votaram para deputado estadual (os dados constam do Estudo Eleitoral Brasileiro conduzido pela UFF e pelo Cesop/Unicamp). Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0705200615.htm>. Acesso em: 27 de março de 2014.
E você, lembra em quem votou e fiscaliza o seu candidato?
Aparecem diariamente na internet informações falsas, divulgadas para manipular pessoas, e as mesmas, antes de formarem opinião repassam para outrem sem antes procurar verificar a sua veracidade em sites independentes e confiáveis. Isso é uma forma de fugir do diálogo técnico e criar factoides.
Uma forma de entender estas questões é através do livro “A ditadura da mídia”, do jornalista Altamiro Borges; um alerta a respeito da manipulação midiática da sociedade. Um grande exemplo é a briga de duas grandes revistas: VEJA representando o PSDB e a Carta Capital representando o PT. Isso sem falar das famílias e empresas que são donas das grandes redes de comunicação do mundo e que só divulgam aquilo que interessam para manipular a sociedade. Por isso, conforme disse João Ubaldo Ribeiro no seu livro “Política; quem manda, por que manda, como manda”: “Não seja colonizado, medroso, calado, burro”. Isto é, não seja manipulado por ninguém.
O jornal Valor Econômico de 26/3/2014 mostrou quatro reportagens interessantes: a primeira é a de que doleiros usam “igrejas” para lavar dinheiro: “Doleiros usam imunidade tributária conferida por lei (Constituição) a templos religiosos para lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e sonegação fiscal”. O jornal também explica que, o número de entidades religiosas já é maior que o número de sindicatos e cooperativas.
A segunda reportagem é a de que dispara o número de milionários no Brasil; a tendência é de uma alta exponencial nos próximos cinco anos, isso sem contar no aumento do número de bilionários, diretamente proporcional à diminuição da miséria.
A terceira, o Reino Unido quer investir mais em óleo e gás no Brasil. Apesar do crescimento mais lento da economia, o Brasil permanece com “grande” atratividade para investimentos britânicos na área de petróleo, gás e energia elétrica. Esta é a avaliação do ministro britânico Kenneth Clark. Clarke também afirmou que, “a desaceleração brasileira não é algo diferente do que acontece no resto do mundo”.
A quarta, o sociólogo italiano Domenico de Masi acaba de lançar o livro “O Futuro Chegou – Modelos de Vida para uma sociedade Desorientada”, pelas editoras: Quitanda Cultural e Casa da Palavra. O escritor utilizou como referência o livro “Brasil, um País do Futuro”, do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942). Segundo o sociólogo: “O Brasil é um modelo para a sociedade pós-industrial. É uma das poucas economias cujo PIB cresce há 30 anos, cujas distâncias sociais diminuem e a qualidade de vida melhora”.
Domenico de Masi complementa: “[...] É a única economia na qual, por oito anos, um presidente sociólogo incrementou a riqueza nacional e por outros oito anos um presidente sindicalista tratou de redistribuí-la. [...] Da mesma maneira não basta dizer que “todos sabem” que a crise deflagrada em 2008 não é uma crise, mas o início de uma longa e implacável redistribuição mundial de riqueza”. Fonte: Jornal Valor Econômico de 23 de março de 2014.
O que estas reportagens têm em comum: os paradoxos do Brasil, enquanto cresce o interesse do mundo em investir aqui porque o país melhorou e a desigualdade diminuiu empurrando para cima os que estavam na base da pirâmide, aumentando exponencialmente o número de milionários e consequentemente o de bilionários; de outro lado há a corrupção, grande responsável pelos problemas críticos da nação. A corrupção não está apenas no governo, mas diluída em grande parte da sociedade.
Por exemplo, responda aos seguintes questionamentos do repórter Fabrício Battaglini: “Você se considera uma pessoa correta? Faz tudo direitinho ou gosta de se dar bem, mesmo deslizando naquelas “pequenas” atitudes que a maioria das pessoas acaba cometendo pelo menos uma vez na vida? Por exemplo, de não devolver o troco recebido a mais, falsificar carteirinha de estudante, comprar produtos piratas, dar aquela "furadinha" na fila, tentar subornar o guarda para evitar multas, colar na prova, bater ponto para o colega, apresentar atestado médico falso para justificar uma falta... E por aí vai”. Disponível em: <http://gshow.globo.com/programas/mais-voce/O-programa/noticia/2014/03/pequenas-corrupcoes-alunos-de-direito-usam-aplicativo-em-esquema-de-cola.html>. Acesso em: 27 de março de 2014.
Faço a você algumas perguntas, porém, responda sem pensar em opção partidária, mas apenas no tema: como era há dez anos a sua vida, dos seus familiares e da maioria das pessoas que você conhece? Como está você e as demais pessoas hoje? Melhoraram ou não? Da forma que está como será o país no futuro?
Agora continue pensando de forma diluída em relação a você, os seus familiares e conhecidos: quais carros tinham, quais eram os tipos de formação, quanto ganhavam, onde moravam, quais tipos de moradias tinham, onde passavam as férias, onde os filhos estudavam, quantos móveis tinham, quantas vezes viajaram para o exterior, quantos tinham um curso universitário, quantos viviam em extrema miséria, quantos tinham um imóvel pra morar, quanto pagavam em taxa de juros de financiamento, quais marcas de produtos consumiam, quantos estudavam em universidades públicas, quantos iam estudar em grandes universidades internacionais: Harvard, MIT, Oxford, Princeton etc., quantas universidades públicas existiam com acesso pelo ENEM, quantos estudavam com financiamento do governo, quanto pagavam pela passagem de ônibus sem o cartão Bilhete Único, qual era a taxa de desemprego, quantos empreendimentos imobiliários existiam, quanto o Brasil pagava de juros ao FMI etc.
Agora pense, como estão hoje? Melhoraram ou não? E daqui a dez anos? É difícil responder, o futuro é uma incógnita, ninguém é o dono da verdade, a pessoa apenas acredita no que viu ou concluiu após muita pesquisa de determinado tema, embora a filosofia afirme: não há como conhecer em si qualquer coisa.
Para as perguntas supracitadas há uma resposta pessoal, de consciência moral e ética, porque cada pessoa deve entender bem a diferença entre reclamar constantemente de tudo e comentar que algo não está bom, sem sentir raiva e colocar a culpa em outrem, pois conforme cita a professora Emilce Shrividya Starling: “Às vezes, precisamos corrigir algo em nós próprios que não está certo ou ensinar a alguém a agir corretamente, tudo isso sem expressar energia negativa. Daí a importância de entender essa diferença. Para sair desta angústia é necessário parar de reclamar e demonstrar gratidão pelas coisas boas, sem esquecer é óbvio, de cobrar melhorias em tudo que não está bom”.
Starling ainda dá a seguinte dica: “Escreva agora em um papel cinco coisas pelas quais você sente-se grato, pois quando você escreve em um papel, em vez de apenas pensar, você consegue sentir gratidão. Mantenha esse sentimento de gratidão pelo seu dia inteiro e perceba como você vai se sentir mais leve, mais contente. Um bom livro para você se aprofundar nesse assunto:‘Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas’, de Will Bowen, Editora Sextante”. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vyaestelar/pare_de_reclamar.htm>. Acesso em: 27 de março de 2014.
Na maioria das vezes, as causas e soluções dos problemas vividos não são culpa do governo, mas do próprio ser, e, por não querer assumi-las, transfere o seu veneno para o alvo errado. Às vezes até ficando com raiva de pessoas que tem opinião política contrária à sua.
Segundo a escritora Lêda Torres: “Tudo na vida é uma troca, ninguém vive sem trocar nada. Trocam-se desejos, conversas, sentimentos, interesses, de vida, ocupações, amizade etc.”.
Assim, analisando não apenas uma pessoa, mas todas as conquistas de uma sociedade é que você irá determinar quem realmente merece a sua confiança e realizar a escolha dos seus governantes. Que vença democraticamente a maioria, conforme prevê o Estado de Direito, pois conforme disse Winston Churchill: "Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".
A reclamação da saúde e dos demais problemas brasileiros é pertinente e justa, isso é coisa de uma sociedade politizada, porém, colocar a culpa em apenas uma pessoa ― por senso comum, raiva ou uma questão partidária ― não é um problema político, é pessoal.
Portanto, navegar é preciso. Não seja apenas um cidadão formado, seja também informado; use os seus sentidos sem preconceito e fanatismo. Pesquise, argumente, seja livre porque a educação é o caminho para a emancipação mental do indivíduo, mas não esqueça que, conforme citou o pensador Leonardo Boff: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”.


Renato Luiz de Oliveira Ferreira



segunda-feira, 17 de março de 2014

O preconceito contra a pessoa de melanina acentuada

Recentemente eu estava com a minha família num aconchegante Buffet no bairro de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, para uma cerimônia de casamento. Aquilo era algo novo pra mim, pois nunca havia assistido a uma cerimônia evangélica. Confesso que foi bonita e emocionante: a música, a entrada dos padrinhos, os noivos, a mensagem do orador (pastor), a atenção dada pelos funcionários da casa, a forma como fomos servidos, enfim, perfeita.
Aproximadamente às 23h30, resolvemos ir embora, mas a festa continuou de forma animada. Na saída, ganhamos o brinde dos noivos e fomos para a entrada principal. Notamos que estava chovendo. A minha família ficou aguardando eu ir buscar o carro a 50 metros do local. Como exceção, a minha filha quis ir comigo até o veículo.
Em seguida, um senhor que estava na festa conosco também tomou a mesma decisão, pediu para a sua família aguardar na porta do Buffet e foi até o local que estava o seu veículo. Por coincidência, o meu carro estava à frente do dele. Caminhamos juntos até próximo dos veículos: o meu, um Ford Fiesta popular, o da pessoa ao meu lado, um importado muito bonito ― não sei a marca, nem o nome.
Para a minha indignação, no momento em que abríamos as portas dos nossos carros para adentrarmos, surgiu uma viatura policial e abordou o senhor que estava ao meu lado. Ouvi muito gritos para que ele levantasse as mãos, ficasse de costas etc.
Passado o susto inicial, os policiais revistaram o veículo, pediram os documentos... Notaram que era uma pessoa de bem, não estava roubando aquele belo carro.
Fiquei decepcionado. Comentei com a minha filha, mas ao mesmo tempo indagando a mim mesmo: por que a abordagem foi feita apenas àquela pessoa? Eu também estava no mesmo local, por que não fui abordado? Foi por causa da minha pele branca? Qual foi o critério utilizado pelos policiais? Eu estava bem vestido, o homem que estava ao meu lado também, inclusive bem melhor do que eu. Será se foi o seu carro? Não! Infelizmente, não!
Depois fiquei sabendo que o mesmo era um pastor evangélico, convidado para o casamento. Só que na verdade, o homem só foi abordado porque era negro, não havia outro motivo de naquele momento ele ser revistado e eu não. Foi uma atitude preconceituosa sim, eu vi e senti. Fiquei envergonhado de presenciar que parte da sociedade ainda coloca a cor da pele como estereótipo marginal.
Desapontado, ele foi embora com a sua família. Talvez “entenda” melhor do que eu este ato corriqueiro, pois sentiu literalmente na pele o preconceito.
Segundo o dicionário Caldas Aulete, a definição de preconceito é: “a opinião ou ideia preconcebida sobre algo ou alguém, sem conhecimento ou reflexão; PREJULGAMENTO; uma atitude genérica de discriminação ou rejeição de pessoas, grupos, ideias etc., em relação a sexo, raça, nacionalidade, religião etc. INTOLERÂNCIA; ideia ou juízo fundado em crendices e superstições; CISMA”. Disponível em: <http://aulete.uol.com.br/preconceito#ixzz2wE11nGBS>. Acesso em 16 de março de 2014.
Segundo o jornal O GLOBO, de 12/8/2013: uma juíza federal dos EUA decidiu que, a controversa política de “stop-and-frisk, que autoriza a Polícia de Nova York a revistar “qualquer pessoa”, mesmo sem suspeitas aparentes, viola a Constituição porque é dirigida principalmente a negros e latinos.
A mesma reportagem diz: “Com os números mostrando que 87% das 533.042 pessoas paradas para averiguação no ano passado eram negras ou de origem hispânica, a juíza Shira Scheindlin viu na prática violações da Constituição e “listagem racial indireta” de milhares de cidadãos nova-iorquinos. A maioria dos suspeitos é de homens jovens e inocentes.”.
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, prometeu apelar. Segundo ele, a prática do “pare e reviste” deixou a cidade mais segura nos últimos anos e impediu a circulação de armas de fogo ilegais. Segundo o prefeito: “as pessoas também têm direito de andar nas ruas sem serem mortas ou roubadas, cujo legado, segundo analistas, pode ser manchado pela decisão judicial”. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/mundo/juiza-declara-inconstitucional-pratica-de-revista-policial-em-nova-york-9481778>. Acesso em 16 de março de 2014.
O prefeito de Nova York só não explicou o porquê de revistar apenas negros e latinos, se os crimes nos EUA são praticados por diversos tipos de pessoas: sendo brancas, negras, e de todos os níveis da sociedade americana.
No Brasil não é diferente. Entendo que a abordagem é uma forma da Polícia inibir a criminalidade; mas por que é utilizada, na sua grande maioria, apenas para pretos, pobres e prostitutas?
Segundo a Constituição Federal, Art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”.
Veja o que diz Luiz Flávio Gomes, jurista e coeditor do Portal Atualidades do Direito, numa entrevista a respeito do ‘Perfil dos presos no Brasil em 2012’, após a seguinte pergunta: Os ricos também são delinquentes? Se olharmos para as pessoas que estão recolhidas nos presídios brasileiros rapidamente chegamos à conclusão (falsa) de que não. A prisão não é um referencial confiável para se saber quem comete crime no Brasil. Ela serve de referência para se saber quem vai para a cadeia. O mensalão (que envolve o PT), a corrupção na concorrência do metrô em SP (que envolve o PSDB), um milhão de outros casos criminais (que envolvem todos os demais partidos políticos, os políticos, grande parcela dos empresários etc.), as lavagens de dinheiro (que envolvem praticamente todos os bancos do planeta), os governos e ministérios (que envolvem as classes dominantes), o banco do Vaticano, sim, esses casos nos revelam que os ricos também são criminosos, gerando danos incomensuráveis para uma multidão de vítimas.
Outro comentário de Flavio Gomes a respeito de quem são os presos no Brasil: Em 2012, o sistema penitenciário brasileiro manteve o mesmo perfil de presos que nos anos anteriores. No que diz respeito à raça, cor ou etnia, os pardos eram, em 2012, maioria no sistema penitenciário com 43,7% de presença nas prisões brasileiras. Os de cor branca 35,7%, os negros 17%, a raça amarela 0,5% e os indígenas 0,2%. Outras raças e etnias apontaram 2,9% de presença. Segundo o próprio relatório do InfoPen, há um erro de cálculo nessa estática, registrando uma inconsistência de 28 mil pessoas no valor automático”. Disponível em: <http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2013/08/14/perfil-dos-presos-no-brasil-em-2012/>. Acesso em: 16 de março de 2014.
Em contrapartida, as estatísticas mostram a quantidade aproximada de presos em relação ao total de cada cor existente no Brasil, sendo: 0,28% de presos para uma população de 82 milhões de pardos; 0,21% para 91 milhões de brancos; 0,57% para 15 milhões de pretos. Uma demonstração de que, em relação à cor e não no total geral de brasileiros, os negros são a maioria que estão e permanecem mais tempo no sistema penitenciário; mas isso se deve à permanente história de preconceito e desigualdade. Não há provas concretas de maior prática de delitos por parte dos negros em relação aos demais, pois há muitos delinquentes burgueses vivendo uma vida normal. E além disso, em relação aos pretos, o sistema penitenciário não é um dado confiável mas sofismático. Isso também desmistifica a impressão de que os negros só são minoria no perfil de presos ― conforme índices supracitados por Luiz Flávio Gomes ― porque fazem parte de um menor número de indivíduos.
Desta forma, se existisse realmente igualdade no Brasil a quantidade de negros no sistema prisional seria menor.
Isso demonstra que, os negros na sua maioria, são marginalizados. Pessoas ainda veem a cor da pele e a condição social como características de delinquentes. Não esquecendo de que os noticiários mostram à sociedade que os maiores marginais deste país têm nível superior, colarinho branco, boa condição social etc. Por isso, não há cabimento estereotipar de forma preconceituosa uma pessoa devido à melanina acentuada1 de sua pele (negra) e o seu saldo bancário. O caráter de uma pessoa não está na cor de sua pele, mas no hábito da sua forma moral de pensar, agir e reagir perante o próximo.

Renato Luiz de Oliveira Ferreira





1O nome surgiu através de um projeto teatral organizado pelo ator Lázaro Ramos e pelo dramaturgo Aldri Anunciação, chamado de “Nova Dramaturgia da Melanina Acentuada”.

sábado, 15 de março de 2014

Um destino sem graça – poema triste...


(Dedicado a uma linda família)

Era um vez uma linda família [.................................]:
A doença levou o filho [.....................................]...
A tristeza levou o pai [.......................................]!
A dor no coração levou a mãe [.................................]?

Ficou a filha a chorar [.....................................]...
Ficaram os netos sem entender [.............................]?...
Ficaram os amigos a lamentar... [.............................]?!

Rima?! Que nada, pra quê?! [...................................]!
Que destino sem graça. [.....................................]...

Dizer mais o quê? Deus que explique... [...............], amém...

Renato Luiz de Oliveira Ferreira



terça-feira, 11 de março de 2014

A Poesia

O poema é a imagem da alma do poeta num momento de distração e encanto provocado pela inspiração. A poesia é a união de todos estes elementos em plena harmonia.

Renato Luiz de Oliveira Ferreira

sábado, 8 de março de 2014

Mulher: o adjetivo de um substantivo concreto de ordem superior

Um dia para a reflexão, pois há muito a comemorar e também a lamentar.
No dia 8 de março de 1857 cerca de 130 tecelãs morreram carbonizadas numa fábrica de tecidos nos EUA pelos simples fato de reivindicarem igualdade de direitos.
Em 1910 durante uma conferência na Dinamarca ficou decidido que a data passaria a ser o "Dia Internacio
nal da Mulher", em homenagem ao desumano fato de 1857, porém, apenas em 1975 a Organização das Nações Unidas – ONU oficializou a data.
Ganhos a comemorar, não necessariamente na mesma ordem:
• Direito ao voto a partir do movimento sufragista (primeira onda feminista);
• Movimentos de liberação feminina (segunda onda);
• Luta pela correção dos valores para eliminação da dominação patriarcal, dos papéis atribuídos a cada gênero, da igualdade de direitos e deveres, e o fim da desigualdade (terceira onda em diante);
• A conquista da emancipação;
• Maior participação nos movimentos feministas;
• Fim do paradigma de sexo frágil;
• No Brasil, a conquista da igualdade entre homens e mulheres em direitos e obrigações, conforme a Constituição de 1988;
• Direito à licença-maternidade;
• O direito à assistência gratuita: creche aos seus dependentes;
• Proibição da diferença de salários no exercício das mesmas funções;
• A proteção do Estado para a família, independente de ser formada pela união estável;
• Coibição da violência doméstica: Lei 11.340/06, conhecida com Lei Maria da Penha;
• A criação do termo gênero, diferenciando-o do termo sexo ― característica e diferenças biológicas criadas pela natureza. O gênero procura abordar as diferenças socioculturais entre os sexos e a inferioridade que ainda vive a mulher;
• A entrada da mulher no mercado de trabalho para e complementação dos ganhos das famílias;
• Como exceção, está nascendo paulatinamente, um homem proativo, enxergando a mulher como parceira, e não um objeto;
• A alta expectativa de vida da mulher;
• Igualdade, igualdade e igualdade... Entre outras conquistas.
A lamentar, não necessariamente na mesma ordem:
• Ainda há desigualdade em relação aos homens;
• As mulheres ainda ocupam poucos espaços políticos (executivo, legislativo, judiciário);
• Recebem baixos salários em relação aos mesmos cargos ocupados pelos homens;
• A sociedade patriarcal ainda tenta manter a “supremacia masculina”, impedindo o avanço intelectual e potencial das mulheres;
• A falta de mais homens proativos;
• A pressão social para provar a todo o momento capacidade em tudo o que faz;
• Duplas jornadas;
• A pressão para manter a forma imposta pelo mundo da estética;
• A “obrigação” de ser resiliente;
• A falta de liberdade para decidir sobre os seus desejos;
• Falta de respeito à sua opção sexual;
• O preconceito contra a mulher negra e pobre no Brasil;
• O tráfico de mulheres;
• Os abusos e a exploração sexual;
• A exploração sexual de crianças, na sua maioria meninas;
• A falta de respeito à questão do aborto;
• A falta de direito ao orgasmo;
• A discriminação religiosa em nome de um “Deus” criado pelo mundo machista;
• A violência: a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no Brasil;
• 372 mulheres são assassinadas por mês no Brasil. Os índices são do Instituto Avante Brasil e do Ministério da Saúde. O número infelizmente vem crescendo;
• A Lei Maria da Penha não diminuiu o assassinato de mulheres no Brasil;
• A falta de respeito aos direitos reprodutivos e proteção da mulher;
• A falta de igualdade, igualdade e igualdade...
Os lamentos citados são os novos desafios para a verdadeira emancipação da mulher.
Não podemos deixar que o 8 de março se transforme em mais uma data comercial e hipócrita tal qual transformaram o Natal, a Páscoa etc.
 
Portanto, é um dia para reflexão, pois a luta continua pelo fim da sociedade patriarcal e a universalização de uma sociedade igualitária – principal objetivo do feminismo – porque conforme disse Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher; torna-se mulher.”. Uma frase que, há mais de 60 anos, inspira gerações de mulheres a mergulhar no verdadeiro significado da condição feminina. Isso é ser mulher: o adjetivo de um substantivo concreto de ordem superior. 

Renato Luiz de Oliveira Ferreira
Apenas uma definição 

Mulher: o adjetivo de um substantivo concreto de ordem superior.

Renato Luiz de Oliveira Ferreira.