A
situação da saúde no Brasil é grave, mas a culpa não é apenas
do governo federal (presidente Dilma Rousseff) ― conforme muitos
acham, por desinformação ―, mas também, dos estados, pois
recebem a verba do SUS e têm a responsabilidade de distribuí-la. Os
governos da União, dos estados e dos municípios são obrigados a
realizar uma gestão eficiente dos serviços públicos, mas não
fazem.
Os
estados são governados pelos seguintes partidos: o PSDB 8 estados, o
PSB 6, o PMDB 6, o PT 4, o PSD 2 e o DEM 1. Em todos eles a situação
é a mesma, os governos não conseguem um atendimento eficaz em
saúde, educação, transporte e segurança.
Do
jeito em que estão as coisas as pessoas têm de reclamar mesmo;
assim as mudanças acontecem, porém, a crítica precisa ser de forma
imparcial. Colocar a culpa apenas no poder Executivo é um erro, pois
também há os poderes Legislativo e Judiciário; não esquecendo
que, o poder mais importante para as mudanças que o país precisa é
o Legislativo, pois é quem fiscaliza o Executivo, vota as leis
orçamentárias, e, em situações específicas, julga a conduta de
seus membros, do Presidente da República, entre outras atividades.
Voltando
à questão da saúde, os melhores planos públicos do mundo são os
da França, Canadá, Reino Unido, Suécia e Espanha. Saiba que nestes
países não há a desigualdade existente no Brasil.
Mesmo
com toda a deficiência o SUS ainda é superior ao sistema de muitos
países, além de ser copiado por alguns. Por exemplo, nos EUA não
há plano de saúde público. O presidente Barack Obama está
tentando criar um para a população carente. Apesar de todo o
esforço, não consegue porque a oposição não quer. É a famosa
politicagem.
Conforme
informa o Instituto de Defesa do Consumidor - IDEC: “Está enganado
quem pensa que o SUS se resume a consultas, exames e internações. O
sistema hoje faz muito com poucos recursos e também se especializou
em apresentar soluções para casos difíceis, como o atendimento aos
doentes de AIDS e os transplantes.”.
O
IDEC ainda enfatiza: “[...] Por outro lado, os planos privados de
saúde, que atendem 35 milhões de brasileiros, estão longe de
representar a solução para a saúde no Brasil. É ilusão achar que
os planos prestam serviços de qualidade. Além de custarem caro,
muitas vezes negam o atendimento quando o cidadão mais precisa:
deixam de fora medicamentos, exames, cirurgias e muitas vezes
dificultam o atendimento dos cidadãos idosos, dos pacientes
crônicos, dos portadores de patologias e deficiências”. Fonte:
O SUS pode ser seu melhor plano de saúde / Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor. 2. ed., 3.ª reimpr. – Brasília: IDEC, 2003,
p. 7.
Os
doentes e os idosos, na visão dos planos de saúde, já são
comparados a “carros batidos”, sendo melhor opção os jovens e
sadios, pois dão menos prejuízos.
Para
os planos de saúde, diferentemente do SUS, só tem direito ao plano
privado quem pode pagar, sendo que a sua finalidade é o lucro. Quem
recebe os melhores serviços é quem paga mais, os idosos pagam mais
caro, doentes sofrem restrições e precisam pagar mais caro para
terem atendimento, há carências de até 2 anos, só realiza
atendimento médico-hospitalar, há planos que não cobrem internação
e Parto, não cobrem exames e procedimentos complexos, em geral, os
planos não cobrem doenças profissionais e acidentes de trabalho,
não têm compromisso com prevenção de doenças, aposentados,
ex-funcionários, ex-associados perdem o direito ao plano coletivo
com o tempo. Isso tudo para quem pode pagar ou tem direito pelo
empregador.
O
maior problema do SUS ainda é a corrupção, e a mesma não é
apenas dos governos, mas também de alguns funcionários. Basta cada
pessoa lembrar das recentes reportagens a respeito de médicos que
marcam o ponto e abandonam o local de trabalho para irem aos seus
consultórios particulares. Muitos desses médicos são contra a
vinda de médicos cubanos para o Brasil alegando as mais absurdas e
preconceituosas justificativas.
Num
regime democrático cada pessoa escolhe o seu candidato, isso faz
parte do Estado de Direito. Se o eleito fará uma boa administração
só o tempo dirá, pois em todos os partidos há problemas de
corrupção. Por exemplo, enquanto o PT teve o seu mensalão, o PSDB
e o DEM também tiveram, com Eduardo Azeredo, Cláudio Mourão,
Walfrido dos Mares Guia, Demóstenes Torres, entre outros. Não
esquecendo dos demais problemas do PT (Petrobras), PSDB (caso Alstom)
e muitos outros que são divulgados diariamente. A sociedade não
suporta mais isso.
O
problema, conforme comenta o cientista político Alberto Carlos
Almeida em seu ensaio ‘Amnésia eleitoral’ do livro "Reforma
Política: Lições da História Recente", editora FGV, está na
falta de fiscalização do eleitor; muitos não conseguem lembrar em
quem votou. Almeida ainda revela que, 71% dos eleitores esquecem em
quem votaram para deputado federal quatro anos antes e outros 3%
citam nomes inexistentes. Essa amnésia começa cedo: dois meses após
a eleição, 28% já não se recordam de seu candidato a deputado
federal, e 30%, em quem votaram para deputado estadual (os dados
constam do Estudo Eleitoral Brasileiro conduzido pela UFF e pelo
Cesop/Unicamp). Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0705200615.htm>.
Acesso em: 27 de março de 2014.
E
você, lembra em quem votou e fiscaliza o seu candidato?
Aparecem
diariamente na internet informações falsas, divulgadas para
manipular pessoas, e as mesmas, antes de formarem opinião repassam
para outrem sem antes procurar verificar a sua veracidade em sites
independentes e confiáveis. Isso é uma forma de fugir do
diálogo técnico e criar factoides.
Uma
forma de entender estas questões é através do livro “A ditadura
da mídia”, do jornalista Altamiro Borges; um alerta a respeito da
manipulação midiática da sociedade. Um grande exemplo é a briga
de duas grandes revistas: VEJA representando o PSDB e a Carta Capital
representando o PT. Isso sem falar das famílias e empresas que são
donas das grandes redes de comunicação do mundo e que só divulgam
aquilo que interessam para manipular a sociedade. Por isso, conforme
disse João Ubaldo Ribeiro no seu livro “Política;
quem manda, por
que manda, como manda”: “Não seja colonizado,
medroso,
calado,
burro”. Isto é, não seja manipulado por ninguém.
O
jornal Valor Econômico de 26/3/2014 mostrou quatro reportagens
interessantes: a primeira é a de que doleiros usam “igrejas”
para lavar dinheiro: “Doleiros usam imunidade tributária conferida
por lei (Constituição) a templos religiosos para lavagem de
dinheiro, ocultação de patrimônio e sonegação fiscal”. O
jornal também explica que, o número de entidades religiosas já é
maior que o número de sindicatos e cooperativas.
A
segunda reportagem é a de que dispara o número de milionários no
Brasil; a tendência é de uma alta exponencial nos próximos cinco
anos, isso sem contar no aumento do número de bilionários,
diretamente proporcional à diminuição da miséria.
A
terceira, o Reino Unido quer investir mais em óleo e gás no Brasil.
Apesar do crescimento mais lento da economia, o Brasil permanece com
“grande” atratividade para investimentos britânicos na área de
petróleo, gás e energia elétrica. Esta é a avaliação do
ministro britânico Kenneth Clark. Clarke também afirmou que, “a
desaceleração brasileira não é algo diferente do que acontece no
resto do mundo”.
A
quarta, o sociólogo italiano Domenico de Masi acaba de lançar o
livro “O Futuro Chegou – Modelos de Vida para uma sociedade
Desorientada”, pelas editoras: Quitanda Cultural e Casa da Palavra.
O escritor utilizou como referência o livro “Brasil, um País do
Futuro”, do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942). Segundo o
sociólogo: “O Brasil é um modelo para a sociedade pós-industrial.
É uma das poucas economias cujo PIB cresce há 30 anos, cujas
distâncias sociais diminuem e a qualidade de vida melhora”.
Domenico
de Masi complementa: “[...] É a única economia na qual, por oito
anos, um presidente sociólogo incrementou a riqueza nacional e por
outros oito anos um presidente sindicalista tratou de redistribuí-la.
[...] Da mesma maneira não basta dizer que “todos sabem” que a
crise deflagrada em 2008 não é uma crise, mas o início de uma
longa e implacável redistribuição mundial de riqueza”. Fonte:
Jornal Valor Econômico de 23 de março de 2014.
O
que estas reportagens têm em comum: os paradoxos do Brasil, enquanto
cresce o interesse do mundo em investir aqui porque o país melhorou
e a desigualdade diminuiu empurrando para cima os que estavam na base da pirâmide, aumentando exponencialmente o número de milionários e
consequentemente o de bilionários; de outro lado há a corrupção,
grande responsável pelos problemas críticos da nação. A corrupção
não está apenas no governo, mas diluída em grande parte da
sociedade.
Por
exemplo, responda aos seguintes questionamentos do repórter Fabrício
Battaglini: “Você se considera uma pessoa correta? Faz tudo
direitinho ou gosta de se dar bem, mesmo deslizando naquelas
“pequenas” atitudes que a maioria das pessoas acaba cometendo
pelo menos uma vez na vida? Por exemplo, de não devolver o troco
recebido a mais, falsificar carteirinha de estudante, comprar
produtos piratas, dar aquela "furadinha" na fila, tentar
subornar o guarda para evitar multas, colar na prova, bater ponto
para o colega, apresentar atestado médico falso para justificar uma
falta... E por aí vai”. Disponível
em:
<http://gshow.globo.com/programas/mais-voce/O-programa/noticia/2014/03/pequenas-corrupcoes-alunos-de-direito-usam-aplicativo-em-esquema-de-cola.html>.
Acesso em: 27 de março de 2014.
Faço
a você algumas perguntas, porém, responda sem pensar em opção
partidária, mas apenas no tema: como era há dez anos a sua vida,
dos seus familiares e da maioria das pessoas que você conhece? Como
está você e as demais pessoas hoje? Melhoraram ou não? Da forma
que está como será o país no futuro?
Agora
continue pensando de forma diluída em relação a você, os seus
familiares e conhecidos: quais carros tinham, quais eram os tipos de
formação, quanto ganhavam, onde moravam, quais tipos de moradias
tinham, onde passavam as férias, onde os filhos estudavam, quantos
móveis tinham, quantas vezes viajaram para o exterior, quantos
tinham um curso universitário, quantos viviam em extrema miséria,
quantos tinham um imóvel pra morar, quanto pagavam em taxa de juros
de financiamento, quais marcas de produtos consumiam, quantos
estudavam em universidades públicas, quantos iam estudar em grandes
universidades internacionais: Harvard, MIT, Oxford, Princeton etc.,
quantas universidades públicas existiam com acesso pelo ENEM,
quantos estudavam com financiamento do governo, quanto pagavam pela
passagem de ônibus sem o cartão Bilhete Único, qual era a taxa de
desemprego, quantos empreendimentos imobiliários existiam, quanto o
Brasil pagava de juros ao FMI etc.
Agora
pense, como estão hoje? Melhoraram ou não? E daqui a dez anos? É
difícil responder, o futuro é uma incógnita, ninguém é o dono da
verdade, a pessoa apenas acredita no que viu ou concluiu após muita
pesquisa de determinado tema, embora a filosofia afirme: não há
como conhecer em si qualquer coisa.
Para
as perguntas supracitadas há uma resposta pessoal, de consciência
moral e ética, porque cada pessoa deve entender bem a diferença
entre reclamar constantemente de tudo e comentar que algo não está
bom, sem sentir raiva e colocar a culpa em outrem, pois conforme cita
a professora Emilce Shrividya Starling: “Às vezes, precisamos
corrigir algo em nós próprios que não está certo ou ensinar a
alguém a agir corretamente, tudo isso sem expressar energia
negativa. Daí a importância de entender essa diferença. Para sair
desta angústia é necessário parar de reclamar e demonstrar
gratidão pelas coisas boas, sem esquecer é óbvio, de cobrar
melhorias em tudo que não está bom”.
Starling
ainda dá a seguinte dica: “Escreva agora em um papel cinco coisas
pelas quais você sente-se grato, pois quando você escreve em um
papel, em vez de apenas pensar, você consegue sentir gratidão.
Mantenha esse sentimento de gratidão pelo seu dia inteiro e perceba
como você vai se sentir mais leve, mais contente. Um bom livro para
você se aprofundar nesse assunto:‘Pare
de reclamar e concentre-se nas coisas boas’,
de
Will Bowen, Editora Sextante”. Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/vyaestelar/pare_de_reclamar.htm>.
Acesso em: 27 de março de 2014.
Na
maioria das vezes, as causas e soluções dos problemas vividos não
são culpa do governo, mas do próprio ser, e, por não querer
assumi-las, transfere o seu veneno para o alvo errado. Às vezes até
ficando com raiva de pessoas que tem opinião política contrária à
sua.
Segundo
a escritora Lêda Torres: “Tudo na vida é uma troca, ninguém vive
sem trocar nada. Trocam-se desejos, conversas, sentimentos,
interesses, de vida, ocupações, amizade etc.”.
Assim,
analisando não apenas uma pessoa, mas todas as conquistas de uma
sociedade é que você irá determinar quem realmente merece a sua
confiança e realizar a escolha dos seus governantes. Que vença
democraticamente a maioria, conforme prevê o Estado de Direito, pois
conforme disse Winston Churchill:
"Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem
defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo,
salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos
em tempos".
A
reclamação da saúde e dos demais problemas brasileiros é
pertinente e justa, isso é coisa de uma sociedade politizada, porém,
colocar a culpa em apenas uma pessoa ― por senso comum, raiva ou
uma questão partidária ― não é um problema político, é
pessoal.
Portanto,
navegar é preciso. Não seja apenas um cidadão formado, seja também
informado; use os seus sentidos sem preconceito e fanatismo.
Pesquise, argumente, seja livre porque a educação é o caminho para
a emancipação mental do indivíduo, mas não esqueça que, conforme
citou o pensador Leonardo Boff: “Todo
ponto de vista é a vista de um ponto”.
Renato
Luiz de Oliveira Ferreira