quinta-feira, 27 de março de 2014

Uma questão de saúde e algo mais


A situação da saúde no Brasil é grave, mas a culpa não é apenas do governo federal (presidente Dilma Rousseff) ― conforme muitos acham, por desinformação ―, mas também, dos estados, pois recebem a verba do SUS e têm a responsabilidade de distribuí-la. Os governos da União, dos estados e dos municípios são obrigados a realizar uma gestão eficiente dos serviços públicos, mas não fazem.
Os estados são governados pelos seguintes partidos: o PSDB 8 estados, o PSB 6, o PMDB 6, o PT 4, o PSD 2 e o DEM 1. Em todos eles a situação é a mesma, os governos não conseguem um atendimento eficaz em saúde, educação, transporte e segurança.
Do jeito em que estão as coisas as pessoas têm de reclamar mesmo; assim as mudanças acontecem, porém, a crítica precisa ser de forma imparcial. Colocar a culpa apenas no poder Executivo é um erro, pois também há os poderes Legislativo e Judiciário; não esquecendo que, o poder mais importante para as mudanças que o país precisa é o Legislativo, pois é quem fiscaliza o Executivo, vota as leis orçamentárias, e, em situações específicas, julga a conduta de seus membros, do Presidente da República, entre outras atividades.
Voltando à questão da saúde, os melhores planos públicos do mundo são os da França, Canadá, Reino Unido, Suécia e Espanha. Saiba que nestes países não há a desigualdade existente no Brasil.
Mesmo com toda a deficiência o SUS ainda é superior ao sistema de muitos países, além de ser copiado por alguns. Por exemplo, nos EUA não há plano de saúde público. O presidente Barack Obama está tentando criar um para a população carente. Apesar de todo o esforço, não consegue porque a oposição não quer. É a famosa politicagem.
Conforme informa o Instituto de Defesa do Consumidor - IDEC: “Está enganado quem pensa que o SUS se resume a consultas, exames e internações. O sistema hoje faz muito com poucos recursos e também se especializou em apresentar soluções para casos difíceis, como o atendimento aos doentes de AIDS e os transplantes.”.
O IDEC ainda enfatiza: “[...] Por outro lado, os planos privados de saúde, que atendem 35 milhões de brasileiros, estão longe de representar a solução para a saúde no Brasil. É ilusão achar que os planos prestam serviços de qualidade. Além de custarem caro, muitas vezes negam o atendimento quando o cidadão mais precisa: deixam de fora medicamentos, exames, cirurgias e muitas vezes dificultam o atendimento dos cidadãos idosos, dos pacientes crônicos, dos portadores de patologias e deficiências”. Fonte: O SUS pode ser seu melhor plano de saúde / Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. 2. ed., 3.ª reimpr. – Brasília: IDEC, 2003, p. 7.
Os doentes e os idosos, na visão dos planos de saúde, já são comparados a “carros batidos”, sendo melhor opção os jovens e sadios, pois dão menos prejuízos.
Para os planos de saúde, diferentemente do SUS, só tem direito ao plano privado quem pode pagar, sendo que a sua finalidade é o lucro. Quem recebe os melhores serviços é quem paga mais, os idosos pagam mais caro, doentes sofrem restrições e precisam pagar mais caro para terem atendimento, há carências de até 2 anos, só realiza atendimento médico-hospitalar, há planos que não cobrem internação e Parto, não cobrem exames e procedimentos complexos, em geral, os planos não cobrem doenças profissionais e acidentes de trabalho, não têm compromisso com prevenção de doenças, aposentados, ex-funcionários, ex-associados perdem o direito ao plano coletivo com o tempo. Isso tudo para quem pode pagar ou tem direito pelo empregador.
O maior problema do SUS ainda é a corrupção, e a mesma não é apenas dos governos, mas também de alguns funcionários. Basta cada pessoa lembrar das recentes reportagens a respeito de médicos que marcam o ponto e abandonam o local de trabalho para irem aos seus consultórios particulares. Muitos desses médicos são contra a vinda de médicos cubanos para o Brasil alegando as mais absurdas e preconceituosas justificativas.
Num regime democrático cada pessoa escolhe o seu candidato, isso faz parte do Estado de Direito. Se o eleito fará uma boa administração só o tempo dirá, pois em todos os partidos há problemas de corrupção. Por exemplo, enquanto o PT teve o seu mensalão, o PSDB e o DEM também tiveram, com Eduardo Azeredo, Cláudio Mourão, Walfrido dos Mares Guia, Demóstenes Torres, entre outros. Não esquecendo dos demais problemas do PT (Petrobras), PSDB (caso Alstom) e muitos outros que são divulgados diariamente. A sociedade não suporta mais isso.
O problema, conforme comenta o cientista político Alberto Carlos Almeida em seu ensaio ‘Amnésia eleitoral’ do livro "Reforma Política: Lições da História Recente", editora FGV, está na falta de fiscalização do eleitor; muitos não conseguem lembrar em quem votou. Almeida ainda revela que, 71% dos eleitores esquecem em quem votaram para deputado federal quatro anos antes e outros 3% citam nomes inexistentes. Essa amnésia começa cedo: dois meses após a eleição, 28% já não se recordam de seu candidato a deputado federal, e 30%, em quem votaram para deputado estadual (os dados constam do Estudo Eleitoral Brasileiro conduzido pela UFF e pelo Cesop/Unicamp). Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0705200615.htm>. Acesso em: 27 de março de 2014.
E você, lembra em quem votou e fiscaliza o seu candidato?
Aparecem diariamente na internet informações falsas, divulgadas para manipular pessoas, e as mesmas, antes de formarem opinião repassam para outrem sem antes procurar verificar a sua veracidade em sites independentes e confiáveis. Isso é uma forma de fugir do diálogo técnico e criar factoides.
Uma forma de entender estas questões é através do livro “A ditadura da mídia”, do jornalista Altamiro Borges; um alerta a respeito da manipulação midiática da sociedade. Um grande exemplo é a briga de duas grandes revistas: VEJA representando o PSDB e a Carta Capital representando o PT. Isso sem falar das famílias e empresas que são donas das grandes redes de comunicação do mundo e que só divulgam aquilo que interessam para manipular a sociedade. Por isso, conforme disse João Ubaldo Ribeiro no seu livro “Política; quem manda, por que manda, como manda”: “Não seja colonizado, medroso, calado, burro”. Isto é, não seja manipulado por ninguém.
O jornal Valor Econômico de 26/3/2014 mostrou quatro reportagens interessantes: a primeira é a de que doleiros usam “igrejas” para lavar dinheiro: “Doleiros usam imunidade tributária conferida por lei (Constituição) a templos religiosos para lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e sonegação fiscal”. O jornal também explica que, o número de entidades religiosas já é maior que o número de sindicatos e cooperativas.
A segunda reportagem é a de que dispara o número de milionários no Brasil; a tendência é de uma alta exponencial nos próximos cinco anos, isso sem contar no aumento do número de bilionários, diretamente proporcional à diminuição da miséria.
A terceira, o Reino Unido quer investir mais em óleo e gás no Brasil. Apesar do crescimento mais lento da economia, o Brasil permanece com “grande” atratividade para investimentos britânicos na área de petróleo, gás e energia elétrica. Esta é a avaliação do ministro britânico Kenneth Clark. Clarke também afirmou que, “a desaceleração brasileira não é algo diferente do que acontece no resto do mundo”.
A quarta, o sociólogo italiano Domenico de Masi acaba de lançar o livro “O Futuro Chegou – Modelos de Vida para uma sociedade Desorientada”, pelas editoras: Quitanda Cultural e Casa da Palavra. O escritor utilizou como referência o livro “Brasil, um País do Futuro”, do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942). Segundo o sociólogo: “O Brasil é um modelo para a sociedade pós-industrial. É uma das poucas economias cujo PIB cresce há 30 anos, cujas distâncias sociais diminuem e a qualidade de vida melhora”.
Domenico de Masi complementa: “[...] É a única economia na qual, por oito anos, um presidente sociólogo incrementou a riqueza nacional e por outros oito anos um presidente sindicalista tratou de redistribuí-la. [...] Da mesma maneira não basta dizer que “todos sabem” que a crise deflagrada em 2008 não é uma crise, mas o início de uma longa e implacável redistribuição mundial de riqueza”. Fonte: Jornal Valor Econômico de 23 de março de 2014.
O que estas reportagens têm em comum: os paradoxos do Brasil, enquanto cresce o interesse do mundo em investir aqui porque o país melhorou e a desigualdade diminuiu empurrando para cima os que estavam na base da pirâmide, aumentando exponencialmente o número de milionários e consequentemente o de bilionários; de outro lado há a corrupção, grande responsável pelos problemas críticos da nação. A corrupção não está apenas no governo, mas diluída em grande parte da sociedade.
Por exemplo, responda aos seguintes questionamentos do repórter Fabrício Battaglini: “Você se considera uma pessoa correta? Faz tudo direitinho ou gosta de se dar bem, mesmo deslizando naquelas “pequenas” atitudes que a maioria das pessoas acaba cometendo pelo menos uma vez na vida? Por exemplo, de não devolver o troco recebido a mais, falsificar carteirinha de estudante, comprar produtos piratas, dar aquela "furadinha" na fila, tentar subornar o guarda para evitar multas, colar na prova, bater ponto para o colega, apresentar atestado médico falso para justificar uma falta... E por aí vai”. Disponível em: <http://gshow.globo.com/programas/mais-voce/O-programa/noticia/2014/03/pequenas-corrupcoes-alunos-de-direito-usam-aplicativo-em-esquema-de-cola.html>. Acesso em: 27 de março de 2014.
Faço a você algumas perguntas, porém, responda sem pensar em opção partidária, mas apenas no tema: como era há dez anos a sua vida, dos seus familiares e da maioria das pessoas que você conhece? Como está você e as demais pessoas hoje? Melhoraram ou não? Da forma que está como será o país no futuro?
Agora continue pensando de forma diluída em relação a você, os seus familiares e conhecidos: quais carros tinham, quais eram os tipos de formação, quanto ganhavam, onde moravam, quais tipos de moradias tinham, onde passavam as férias, onde os filhos estudavam, quantos móveis tinham, quantas vezes viajaram para o exterior, quantos tinham um curso universitário, quantos viviam em extrema miséria, quantos tinham um imóvel pra morar, quanto pagavam em taxa de juros de financiamento, quais marcas de produtos consumiam, quantos estudavam em universidades públicas, quantos iam estudar em grandes universidades internacionais: Harvard, MIT, Oxford, Princeton etc., quantas universidades públicas existiam com acesso pelo ENEM, quantos estudavam com financiamento do governo, quanto pagavam pela passagem de ônibus sem o cartão Bilhete Único, qual era a taxa de desemprego, quantos empreendimentos imobiliários existiam, quanto o Brasil pagava de juros ao FMI etc.
Agora pense, como estão hoje? Melhoraram ou não? E daqui a dez anos? É difícil responder, o futuro é uma incógnita, ninguém é o dono da verdade, a pessoa apenas acredita no que viu ou concluiu após muita pesquisa de determinado tema, embora a filosofia afirme: não há como conhecer em si qualquer coisa.
Para as perguntas supracitadas há uma resposta pessoal, de consciência moral e ética, porque cada pessoa deve entender bem a diferença entre reclamar constantemente de tudo e comentar que algo não está bom, sem sentir raiva e colocar a culpa em outrem, pois conforme cita a professora Emilce Shrividya Starling: “Às vezes, precisamos corrigir algo em nós próprios que não está certo ou ensinar a alguém a agir corretamente, tudo isso sem expressar energia negativa. Daí a importância de entender essa diferença. Para sair desta angústia é necessário parar de reclamar e demonstrar gratidão pelas coisas boas, sem esquecer é óbvio, de cobrar melhorias em tudo que não está bom”.
Starling ainda dá a seguinte dica: “Escreva agora em um papel cinco coisas pelas quais você sente-se grato, pois quando você escreve em um papel, em vez de apenas pensar, você consegue sentir gratidão. Mantenha esse sentimento de gratidão pelo seu dia inteiro e perceba como você vai se sentir mais leve, mais contente. Um bom livro para você se aprofundar nesse assunto:‘Pare de reclamar e concentre-se nas coisas boas’, de Will Bowen, Editora Sextante”. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vyaestelar/pare_de_reclamar.htm>. Acesso em: 27 de março de 2014.
Na maioria das vezes, as causas e soluções dos problemas vividos não são culpa do governo, mas do próprio ser, e, por não querer assumi-las, transfere o seu veneno para o alvo errado. Às vezes até ficando com raiva de pessoas que tem opinião política contrária à sua.
Segundo a escritora Lêda Torres: “Tudo na vida é uma troca, ninguém vive sem trocar nada. Trocam-se desejos, conversas, sentimentos, interesses, de vida, ocupações, amizade etc.”.
Assim, analisando não apenas uma pessoa, mas todas as conquistas de uma sociedade é que você irá determinar quem realmente merece a sua confiança e realizar a escolha dos seus governantes. Que vença democraticamente a maioria, conforme prevê o Estado de Direito, pois conforme disse Winston Churchill: "Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".
A reclamação da saúde e dos demais problemas brasileiros é pertinente e justa, isso é coisa de uma sociedade politizada, porém, colocar a culpa em apenas uma pessoa ― por senso comum, raiva ou uma questão partidária ― não é um problema político, é pessoal.
Portanto, navegar é preciso. Não seja apenas um cidadão formado, seja também informado; use os seus sentidos sem preconceito e fanatismo. Pesquise, argumente, seja livre porque a educação é o caminho para a emancipação mental do indivíduo, mas não esqueça que, conforme citou o pensador Leonardo Boff: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”.


Renato Luiz de Oliveira Ferreira



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