sábado, 8 de março de 2014

Mulher: o adjetivo de um substantivo concreto de ordem superior

Um dia para a reflexão, pois há muito a comemorar e também a lamentar.
No dia 8 de março de 1857 cerca de 130 tecelãs morreram carbonizadas numa fábrica de tecidos nos EUA pelos simples fato de reivindicarem igualdade de direitos.
Em 1910 durante uma conferência na Dinamarca ficou decidido que a data passaria a ser o "Dia Internacio
nal da Mulher", em homenagem ao desumano fato de 1857, porém, apenas em 1975 a Organização das Nações Unidas – ONU oficializou a data.
Ganhos a comemorar, não necessariamente na mesma ordem:
• Direito ao voto a partir do movimento sufragista (primeira onda feminista);
• Movimentos de liberação feminina (segunda onda);
• Luta pela correção dos valores para eliminação da dominação patriarcal, dos papéis atribuídos a cada gênero, da igualdade de direitos e deveres, e o fim da desigualdade (terceira onda em diante);
• A conquista da emancipação;
• Maior participação nos movimentos feministas;
• Fim do paradigma de sexo frágil;
• No Brasil, a conquista da igualdade entre homens e mulheres em direitos e obrigações, conforme a Constituição de 1988;
• Direito à licença-maternidade;
• O direito à assistência gratuita: creche aos seus dependentes;
• Proibição da diferença de salários no exercício das mesmas funções;
• A proteção do Estado para a família, independente de ser formada pela união estável;
• Coibição da violência doméstica: Lei 11.340/06, conhecida com Lei Maria da Penha;
• A criação do termo gênero, diferenciando-o do termo sexo ― característica e diferenças biológicas criadas pela natureza. O gênero procura abordar as diferenças socioculturais entre os sexos e a inferioridade que ainda vive a mulher;
• A entrada da mulher no mercado de trabalho para e complementação dos ganhos das famílias;
• Como exceção, está nascendo paulatinamente, um homem proativo, enxergando a mulher como parceira, e não um objeto;
• A alta expectativa de vida da mulher;
• Igualdade, igualdade e igualdade... Entre outras conquistas.
A lamentar, não necessariamente na mesma ordem:
• Ainda há desigualdade em relação aos homens;
• As mulheres ainda ocupam poucos espaços políticos (executivo, legislativo, judiciário);
• Recebem baixos salários em relação aos mesmos cargos ocupados pelos homens;
• A sociedade patriarcal ainda tenta manter a “supremacia masculina”, impedindo o avanço intelectual e potencial das mulheres;
• A falta de mais homens proativos;
• A pressão social para provar a todo o momento capacidade em tudo o que faz;
• Duplas jornadas;
• A pressão para manter a forma imposta pelo mundo da estética;
• A “obrigação” de ser resiliente;
• A falta de liberdade para decidir sobre os seus desejos;
• Falta de respeito à sua opção sexual;
• O preconceito contra a mulher negra e pobre no Brasil;
• O tráfico de mulheres;
• Os abusos e a exploração sexual;
• A exploração sexual de crianças, na sua maioria meninas;
• A falta de respeito à questão do aborto;
• A falta de direito ao orgasmo;
• A discriminação religiosa em nome de um “Deus” criado pelo mundo machista;
• A violência: a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no Brasil;
• 372 mulheres são assassinadas por mês no Brasil. Os índices são do Instituto Avante Brasil e do Ministério da Saúde. O número infelizmente vem crescendo;
• A Lei Maria da Penha não diminuiu o assassinato de mulheres no Brasil;
• A falta de respeito aos direitos reprodutivos e proteção da mulher;
• A falta de igualdade, igualdade e igualdade...
Os lamentos citados são os novos desafios para a verdadeira emancipação da mulher.
Não podemos deixar que o 8 de março se transforme em mais uma data comercial e hipócrita tal qual transformaram o Natal, a Páscoa etc.
 
Portanto, é um dia para reflexão, pois a luta continua pelo fim da sociedade patriarcal e a universalização de uma sociedade igualitária – principal objetivo do feminismo – porque conforme disse Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher; torna-se mulher.”. Uma frase que, há mais de 60 anos, inspira gerações de mulheres a mergulhar no verdadeiro significado da condição feminina. Isso é ser mulher: o adjetivo de um substantivo concreto de ordem superior. 

Renato Luiz de Oliveira Ferreira

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