domingo, 21 de outubro de 2018

O dia em que o riso transformou a repulsa em esperança








Um sábado bonito, em plena primavera, poderia ter sido um dia comum, mas ganhamos de presente, meus filhos e eu, um convite de uma “palhaça” chamada Bezina (mãe e esposa) para assistirmos ao espetáculo da Oficina do Riso, um grupo que faria a sua apresentação após a conclusão do Curso de Clown (palhaço) sob orientação de Ramon Lemos ― ator-clown, diretor teatral, psicodramatista e contador de histórias.
O trabalho do grupo teve início no Espaço da Oficina do Riso onde houve apresentações líricas temperadas com muito humor e ingenuidade, e que, através da catarse doou de forma cênica: alegria! Uma bela ação. De maneira natural receberam de volta a reação do público, isto é, o melhor presente que um palhaço pode ganhar: o sorriso! É a sátira em movimento, da Grécia à Roma, e ao mundo contemporâneo.
Em seguida, conforme acontece desde a Idade Média, o grupo foi às ruas. Desta vez às ruas do bairro de Santa Cecília, na capital paulista. Os palhaços passaram por bares, restaurantes, salões de beleza, lojas... Sempre cantando, dançando, pulando, abraçando, dando tchau. Foi um momento de rara beleza numa cidade que está precisando de mais alegria e de menos rancor.
O momento mais emocionante da festa ocorreu na Praça Rotary. Eu e outras pessoas, inclusive meus filhos, Leila, Renato e Luan, estávamos tirando fotos do grupo. Eu já estava contagiado com a alegria daquela gente bonita. Pensei... como é maravilhoso saber que é possível transformar o mundo através do riso e da felicidade.
Após tirar algumas fotos fui chamado por um senhor de cabelos brancos, que usava óculos, vestia uma camisa cinza e uma calça preta. Ele acenou para mim várias vezes. Aproximei-me dele e tivemos o seguinte diálogo:
― Quem são eles? ― perguntou o senhor com uma cara curiosa.
― Eles fazem parte da Oficina do Riso! ― respondi com um sorriso no rosto.
― O que eles estão fazendo? ― voltou a perguntar o homem, mas de forma agitada.
― Eles estão levando alegria para as pessoas.
― Alegria?!  ― falou indignado após ouvir a minha resposta.
― Sim. Alegria. O que o senhor acha?
― Não concordo! Eu não quero! Por que eles não levam alegria para Bolsonaro e Haddad? Quero ver! ― o homem expressava muita raiva e indignação no olhar. Em seguida respondi:
― Eles são maiores que os políticos. O mundo está precisando de menos ódio, violência, intolerância e de mais alegria, paz e amor. A vida é tão curta... Temos de aproveitá-la enquanto ainda estamos aqui. O riso é a expressão do estado de espírito humano ao encontrar a felicidade em um curto espaço de tempo. É a comemoração de nossa existência.
Após ouvir as minhas palavras o homem baixou um pouco a cabeça e ficou pensativo por alguns instantes... Eu continuei tirando fotos do grupo. Em seguida, comentei o fato com o meu filho, Renato. Ele me abraçou e disse que eu dera uma ótima resposta; que iria provocar uma reflexão naquele homem e, que expressar a nossa opinião dessa forma traz um resultado eficaz. Ele concluiu dizendo que tal fato o fez lembrar da música “A Banda”, de Chico Buarque. Em seguida cantou: “Estava à toa na vida o meu amor me chamou, pra ver a banda passar cantando coisas de amor”. Continuamos a caminhada....
Um pouco mais a frente notei que algo incrível ocorreu ― segundos após o meu filho cantarolar a música de Chico ―, o homem começou a acompanhar o grupo. O rosto dele agora transmitia felicidade. Ele abraçava, sorria, conversava e caminhava pelas ruas com os palhaços. Neste momento a emoção tomou conta de mim... Meus olhos lacrimejavam porque acabara de ver o riso transformar a repulsa em esperança. Comecei a pular de alegria com os palhaços e cantarolei ao lado deles a música de Chico Buarque, agora adaptada àquele momento:

[...] Estava à toa na vida
      O meu amor me chamou,
      Pra ver a “Oficina do Riso” passar
      Cantando coisas de amor.
    
      A minha gente sofrida
      Despediu-se da dor,
      Pra ver a “Oficina do Riso” passar
      Cantando coisas de amor...

A imagem do homem acompanhando o grupo está registrada em fotos, mas o melhor é que o fato está eternizado através da narrativa da história. Por isso nunca devemos perder a esperança de um mundo melhor, mais amoroso. “O amor só é válido quando há permissão das partes para vivê-lo como um todo ― intensamente ―, sem pensar no amanhã, mas apenas senti-lo a cada instante, na forma mais pura possível.” (Renato Ferreira). Por isso esta história fez tão bem pra mim; quem quiser que conte outra assim.

Renato Luiz de Oliveira Ferreira


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A luta contra o preconceito e a servidão voluntária

Conforme escreveu o escritor sergipano, Cezar Brito: “Não nasci nordestino por obra do acaso. Escolheram-me porque saberiam previamente do gosto do meu gostar. E acertaram em cheio!”. Tenho orgulho de minha gente. A pobreza da alma e a ignorância alimentam o preconceito. A falta de conhecimento, humildade, humanidade e respeito ao próximo cria um tipo de visão retrógrada, distorcida da realidade, onde pessoas, de forma ideológica, se acham detentoras de todo o conhecimento ― têm as respostas das questões metafísicas... ―, ofendem um povo, uma cultura, uma região em nome de sua “verdade”, não dando a outrem o direito de livre escolha conforme prevê o estado democrático de direito.

As leis são fortes aliadas contra o preconceito que se entrincheira em nossa mente, como se fosse um vírus oculto, insensível à vacina da consciência. Mesmo quando os gestos e as palavras revelam os sinais da grave doença, seu portador não se percebe doente. Ao não perceber a doença que contamina até sua alma, ele a repassa para as outras pessoas, tranquilamente, sem qualquer remorso pela sensação de cometimento de um crime. (Cezar Britto).

Segundo o dicionário Caldas Aulete o preconceito é a opinião ou ideia preconcebida sobre algo ou alguém, sem conhecimento ou reflexão; prejulgamento. Uma atitude genérica de discriminação ou rejeição de pessoas, grupos, ideias etc., em relação a sexo, raça, nacionalidade, religião etc. Intolerância. Isso fica claro nos ataques contra os nordestinos nas últimas eleições presidenciais. Segundo a escritora e poetisa americana, Maya Angelou “O preconceito é um fardo que confunde o passado, ameaça o futuro e torna o presente inacessível”.
É justamente contra esta imposição (opressão), falta de respeito aos direitos humanos, constitucionais e contra a servidão voluntária que há a luta, a resistência dos excluídos, das minorias, dos mais pobres, para uma sociedade mais igualitária. Esta desigualdade econômica, o preconceito racial, religioso, regional, das questões de gênero, da pobreza... só aumentam a fome, a desnutrição, a mortalidade infantil, a violência, a criminalidade, e por aí vai. Por isso há a luta diária contra o preconceito, de forma ampla, geral e irrestrita.
Esta é uma reação contra um projeto patrocinado em favorecimento dos mais ricos e a perda de direitos dos mais pobres, excluídos e da classe trabalhadora. Contra uma divisão injusta. Isso fica claro quando o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Agência BBC News informam que, a riqueza acumulada pelo 1% mais ricos da população mundial equivale à riqueza dos 99% restantes. É uma diferença desumana que reflete na saúde, alimentação, moradia, transporte, segurança, educação etc.
A desigualdade no Brasil, desde os primórdios, é em função da exploração dos poderosos e seus seguidores. A escravidão que durou cerca de 300 anos é um exemplo de desumanidade. Quase 80 milhões de brasileiros vivem em situação de subemprego e desemprego, quase 50 milhões dos que têm um emprego recebem menos de um salário mínimo. Segundo a Revista Forbes, neste mesmo ritmo há muitos brasileiros na lista dos maiores bilionários do mundo. Grande parte dessa riqueza são os altos lucros de banqueiros e empresários à custa de baixos salários, retirada de direitos dos trabalhadores, entre outros.
Os baixos salários, o desemprego, a fome, a miséria fazem a classe dominante massacrar os escravos modernos. Quem vive numa condição “confortável” e os “que se acham” não percebem isto. O susto só ocorre quando surge o desemprego e consequentemente a perda do plano de saúde, do dinheiro para pagar o condomínio, o financiamento, a escola, quando surge a fila do hospital público, a aposentadoria, a doença grave e a necessidade do SUS. Quando fica vulnerável. É sentindo a dor do outro (menos favorecido) que vem à tona que também é pobre.
Há um incômodo quando uma classe menos favorecida começa a crescer; surge o receio da perda de espaço dos “senhores de engenho”. Não querem a igualdade, há o medo da evolução da “senzala” e da superação da “casa-grande”. A crítica preconceituosa aos nordestinos é a raiva dos que se sentem “superiores” serem desafiados hierarquicamente e saberem que o poder de longos anos sobre os mais fracos pode ser mudado a partir do voto livre e consciente e o acesso à educação. Se os mais ricos lutam pelo poder, os mais pobres lutam pela vida, direitos e liberdade. “O nordestino é antes de tudo, um forte.” (Euclides da Cunha).
Portanto, a pobreza e a ignorância não são dos nordestinos, mas dos que só enxergam o seu mundo e impõem um modo de vida, uma religião, um candidato, um partido político, a opção que lhes convém, um vestuário, uma cor do cabelo, um modelo de corpo, um modelo de estudo, o que ouvir, assistir, ler, enfim... Caso contrário o oprimido é estereotipado de ignorante. Cada pessoa deve fazer as suas escolhas e deixar que os demais também tenham o direito de fazerem o mesmo. Afinal, o mesmo Sol que bronzeia a pele de “fulano” é o que queima a terra de “beltrano e sicrano”. A diferença é que “fulano”, na sua piscina, desconhece o que é a seca, a falta d´água e a fome.



REFERÊNCIAS

DE CADA TRÊS NOVOS DESEMPREGADOS NO MUNDO EM 2017, UM SERÁ BRASILEIRO. Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,de-cada-tres-novos-desempregados-no-mundo-em-2017-um-sera-brasileiro,10000099759>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.

EM 79º LUGAR, BRASIL ESTACIONA NO RANKING DE DESENVOLVIMENTO HUMANO DA ONU. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/em-79-lugar-brasil-estaciona-no-ranking-de-desenvolvimento-humano-da-onu.ghtml>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.

OS NORDESTINOS E O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA. Disponível em: <http://www.socialistamorena.com.br/os-nordestinos-e-o-preconceito-nosso-de-cada-dia/>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.

PRECONCEITO. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/preconceito>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.

1% DA POPULAÇÃO GLOBAL DETÉM MESMA RIQUEZA DOS 99% RESTANTES, DIZ ESTUDO. Disponível em: <http://www.socialistamorena.com.br/os-nordestinos-e-o-preconceito-nosso-de-cada-di https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Rui, bons tempos e belos dias ao lado de grandes amigos...


Esta reflexão é para lembrar de um grande momento em que Roosevelt foi muito importante para a nossa turma do SENAI e o quanto era presente em nossas vidas.
Em 3 de agosto de 1981 conheci os irmãos Roosevelt e Reginaldo Andrade Silva Estrela, além dos demais colegas da 13º turma do Centro de Formação Profissional de Alagoinhas RFFSA/SENAI. Ali começava a escrita de uma bela história de 30 novos alunos.
Durante o curso de formação vivemos momentos inesquecíveis, pois aprendemos muito, crescemos como pessoas e fomos muito felizes. Foi divertido e prazeroso o convívio entre colegas, professores e demais funcionários.
Roosevelt (Rui), e Reginaldo (Regi) apesar de irmãos eram bem diferentes. Enquanto Rui era sorridente e extrovertido, Regi era mais introvertido, concentrado na aula, mais estudioso. Regi não gostava de jogar futebol, Rui era um craque. Aliás tínhamos vários craques de futebol na turma, Robervan, Rui, Adilson Góes, Valdemiro (Neinho), entre outros. Fazendo justiça, Neinho era o melhor jogador da turma. Adilson era quem chutava mais forte.
Desde criança gostei muito de futebol, mas confesso que não tinha muita técnica, por isso admirava grandes craques de colegas aos famosos. Eu era sonhador, tinha vontade de ser campeão em algum time, campeonato... Coisa difícil para quem era ruim de bola.
Esse sonho foi realizado na final dos Jogos Internos do SENAI (JIS) de 1982. A minha equipe, o segundo termo, disputou o título de futebol de campo contra o terceiro termo. O jogo foi no campo do Batalhão da Polícia Militar de Alagoinhas. Não lembro do nome de todos os jogadores, mas de alguns lances do jogo. O árbitro era capitão Dalto. O nosso técnico, Ivo.
O jogo foi duríssimo. Primeiro tempo zero a zero. O segundo tempo foi bem disputado. Aos 40 minutos da etapa final, o zagueiro, Renato, derruba o jogador do time adversário dentro da área, o árbitro aponta a marca do pênalti. Fiquei arrasado. Percebi que a perda do título seria por “minha culpa”.
A bola na marca do pênalti. Eu desesperado! Segue o lance... apita o árbitro, Denilson chuta... e a bola vai sobre o travessão, pra fora! O segundo termo comemora. Fiquei mais calmo. O jogo continua...
Aproximadamente 44 minutos do segundo tempo, Renato toca a bola pra Marcão na lateral esquerda, que toca pra Adilson Góes; Adilson toca pra Robervan, que dá um belo drible e faz um lançamento pra Neinho, que dribla um, dois, três e toca na direita pra Jorge Jovita. Jovita vai à linha de fundo com grande velocidade e cruza para a área, e é gol de Rui para o segundo termo. Golaço! Todos se abraçam. Alegria geral! Tarde inesquecível!
O árbitro dá alguns minutos de desconto e finaliza a partida. Segundo termo campeão do JIS com o gol de Rui. Isso há 36 anos. O título me fez realizar o sonho de ser campeão. Isso me ajudou a vencer os demais obstáculos da vida. Relembrei deste fato recentemente pra Roosevelt, pois conversávamos muito pelo WhatsApp. No último domingo voltei a relembrar no nosso recém-criado grupo de “zapp” da Turma 13 SENAI. Apesar das redes sociais causarem alguns transtornos, há algo legal, a reaproximação de pessoas.
Acho que há um equívoco quando dizem que ninguém é insubstituível porque simplesmente trocar uma pessoa por outra é muito fácil; porém, o grande desafio para a humanidade é descobrir um substituto à altura. Por isso Rui fará muita falta.
 Com o tempo formamos uma família e, conforme a maioria, quando um componente parte há tristeza; o nome disso é saudade. Assim, o Deus que trouxe Rui até aqui é o mesmo que o levou a trilhar novos horizontes ao seu lado.
Portanto, deixo o meu abraço fraterno a Regi, demais familiares e amigos por essa perda irreparável.  Só tenho a agradecer a Rui e aos demais colegas de turma por fazerem parte de minha vida. Por isso, enquanto Deus permitir, aproveitem cada oportunidade, continuem sonhando, mantendo o equilíbrio entre a fé espiritual e os desejos materiais para que atinjam um estado de espírito chamado paz.  Lembrei-me de um ótimo exemplo de vida, a citação de Luciano de Crescenzo: “Somos todos anjos de uma asa só. Só podemos voar abraçados uns aos outros”.  
Rui, você agora é mais uma estrela que vai iluminar este mundo para que tenhamos paz, fraternidade, humanidade, compaixão, esperança e amor. Descanse em paz... que o Senhor o acompanhe. Até sempre. Saudade ∞




P.S. Usei o símbolo matemático ao infinito (∞) em alusão a Guimarães Rosa na obra Grande Sertão: Veredas. Travessia. Infinito (∞). A história (a vida) continua...



                                                                                    São Paulo, 5 de abril de 2018







quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O que é conhecimento?

Para primeiro entender e explicar o que é conhecimento é necessário estudar a etimologia da palavra, isto é, o ponto de partida para o entendimento de um termo, a origem dos vocábulos. Assim, a palavra conhecimento, do latim cognoscere, é formada por “com” (junto), mais “obter conhecimento” (gnoscere).
O conhecimento começa na Filosofia, e é o ato de descobrir algo pela razão e o pensamento de forma ilimitada, utilizando o questionamento como ferramenta, em busca da verdade absoluta de forma crítica.
Com o tempo o termo foi criando dicotomias, isto é, surgiram ramificações do conhecimento baseadas em três elementos: o sujeito, o objeto e a imagem. Assim, há o conhecimento intuitivo, sensorial, intelectual, científico, teológico, popular etc.
Portanto, o conhecimento está em constante movimento e tendendo a mais infinito, à procura do novo, pois o tempo não para.

Renato Luiz de Oliveira Ferreira


 NOTA

Tema apresentado no Fórum de Teoria do Conhecimento do curso de Filosofia da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) em novembro de 2017.

REFERÊNCIA

LARA. Valter Luiz. Teoria do conhecimento. O que é conhecimento?. Apostila de Educação a Distância. Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual.