Conforme
escreveu o escritor sergipano, Cezar Brito: “Não nasci nordestino por obra do
acaso. Escolheram-me porque saberiam previamente do gosto do meu gostar. E
acertaram em cheio!”. Tenho orgulho de minha gente. A pobreza da alma e a
ignorância alimentam o preconceito. A falta de conhecimento, humildade,
humanidade e respeito ao próximo cria um tipo de visão retrógrada, distorcida
da realidade, onde pessoas, de forma ideológica, se acham detentoras de todo o
conhecimento ― têm as respostas das questões metafísicas... ―, ofendem um povo,
uma cultura, uma região em nome de sua “verdade”, não dando a outrem o direito
de livre escolha conforme prevê o estado democrático de direito.
As leis são fortes
aliadas contra o preconceito que se entrincheira em nossa mente, como se fosse
um vírus oculto, insensível à vacina da consciência. Mesmo quando os gestos e
as palavras revelam os sinais da grave doença, seu portador não se percebe
doente. Ao não perceber a doença que contamina até sua alma, ele a repassa para
as outras pessoas, tranquilamente, sem qualquer remorso pela sensação de
cometimento de um crime. (Cezar Britto).
Segundo
o dicionário Caldas Aulete o preconceito é a opinião ou ideia preconcebida
sobre algo ou alguém, sem conhecimento ou reflexão; prejulgamento. Uma atitude
genérica de discriminação ou rejeição de pessoas, grupos, ideias etc., em
relação a sexo, raça, nacionalidade, religião etc. Intolerância. Isso fica
claro nos ataques contra os nordestinos nas últimas eleições presidenciais.
Segundo a escritora e poetisa americana, Maya Angelou “O preconceito é um fardo
que confunde o passado, ameaça o futuro e torna o presente inacessível”.
É
justamente contra esta imposição (opressão), falta de respeito aos direitos
humanos, constitucionais e contra a servidão voluntária que há a luta, a
resistência dos excluídos, das minorias, dos mais pobres, para uma sociedade
mais igualitária. Esta desigualdade econômica, o preconceito racial, religioso,
regional, das questões de gênero, da pobreza... só aumentam a fome, a
desnutrição, a mortalidade infantil, a violência, a criminalidade, e por aí
vai. Por isso há a luta diária contra o preconceito, de forma ampla, geral e
irrestrita.
Esta
é uma reação contra um projeto patrocinado em favorecimento dos mais ricos e a
perda de direitos dos mais pobres, excluídos e da classe trabalhadora. Contra
uma divisão injusta. Isso fica claro quando o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e a Agência BBC News informam que, a riqueza acumulada
pelo 1% mais ricos da população mundial equivale à riqueza dos 99% restantes. É
uma diferença desumana que reflete na saúde, alimentação, moradia, transporte,
segurança, educação etc.
A
desigualdade no Brasil, desde os primórdios, é em função da exploração dos
poderosos e seus seguidores. A escravidão que durou cerca de 300 anos é um
exemplo de desumanidade. Quase 80 milhões de brasileiros vivem em situação de
subemprego e desemprego, quase 50 milhões dos que têm um emprego recebem menos
de um salário mínimo. Segundo a Revista Forbes, neste mesmo ritmo há muitos
brasileiros na lista dos maiores bilionários do mundo. Grande parte dessa
riqueza são os altos lucros de banqueiros e empresários à custa de baixos
salários, retirada de direitos dos trabalhadores, entre outros.
Os
baixos salários, o desemprego, a fome, a miséria fazem a classe dominante
massacrar os escravos modernos. Quem vive numa condição “confortável” e os “que
se acham” não percebem isto. O susto só ocorre quando surge o desemprego e
consequentemente a perda do plano de saúde, do dinheiro para pagar o
condomínio, o financiamento, a escola, quando surge a fila do hospital público,
a aposentadoria, a doença grave e a necessidade do SUS. Quando fica vulnerável.
É sentindo a dor do outro (menos favorecido) que vem à tona que também é pobre.
Há
um incômodo quando uma classe menos favorecida começa a crescer; surge o receio
da perda de espaço dos “senhores de engenho”. Não querem a igualdade, há o medo
da evolução da “senzala” e da superação da “casa-grande”. A crítica
preconceituosa aos nordestinos é a raiva dos que se sentem “superiores” serem
desafiados hierarquicamente e saberem que o poder de longos anos sobre os mais
fracos pode ser mudado a partir do voto livre e consciente e o acesso à
educação. Se os mais ricos lutam pelo poder, os mais pobres lutam pela vida,
direitos e liberdade. “O nordestino é antes de tudo, um forte.” (Euclides da
Cunha).
Portanto,
a pobreza e a ignorância não são dos nordestinos, mas dos que só enxergam o seu
mundo e impõem um modo de vida, uma religião, um candidato, um partido
político, a opção que lhes convém, um vestuário, uma cor do cabelo, um modelo
de corpo, um modelo de estudo, o que ouvir, assistir, ler, enfim... Caso
contrário o oprimido é estereotipado de ignorante. Cada pessoa deve fazer as
suas escolhas e deixar que os demais também tenham o direito de fazerem o
mesmo. Afinal, o mesmo Sol que bronzeia a pele de “fulano” é o que queima a terra de “beltrano
e sicrano”. A diferença é que “fulano”, na sua piscina, desconhece o que é a seca, a falta d´água e a fome.
REFERÊNCIAS
DE
CADA TRÊS NOVOS DESEMPREGADOS NO MUNDO EM 2017, UM SERÁ BRASILEIRO. Disponível
em:
<https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,de-cada-tres-novos-desempregados-no-mundo-em-2017-um-sera-brasileiro,10000099759>.
Acesso em: 8 de outubro de 2018.
EM 79º LUGAR, BRASIL ESTACIONA NO RANKING DE DESENVOLVIMENTO HUMANO DA ONU. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/em-79-lugar-brasil-estaciona-no-ranking-de-desenvolvimento-humano-da-onu.ghtml>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.
OS NORDESTINOS E O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA. Disponível em: <http://www.socialistamorena.com.br/os-nordestinos-e-o-preconceito-nosso-de-cada-dia/>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.
PRECONCEITO. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/preconceito>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.
1% DA POPULAÇÃO GLOBAL DETÉM MESMA RIQUEZA DOS 99% RESTANTES, DIZ ESTUDO. Disponível em: <http://www.socialistamorena.com.br/os-nordestinos-e-o-preconceito-nosso-de-cada-di https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn>. Acesso em: 8 de outubro de 2018.
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