Desde o útero, o
Homem já tem a sua individualidade invadida. Os pais, antes do
nascimento dos filhos, já planejam o que eles serão quando
crescerem. A história antiga mostra o desejo dos reis em colocar no
mundo os seus legados para darem continuidade aos seus impérios.
William Shakespeare
(1564 - 1616), o mais famoso dramaturgo e poeta inglês, escreveu uma
tragédia: Hamlet ― peça dramática que termina com um
acontecimento funesto ―, a personagem principal, o príncipe, cita
uma frase histórica: “Ser ou não ser, eis a questão”.
Analogamente aos dias atuais a ideia de decisão ainda é forte na
cabeça do adolescente. O desejo dos jovens e dos pais cria uma
dicotomia. Quantos péssimos médicos poderiam ser grandes geógrafos,
mas foram induzidos na escolha da profissão errada. É no mínimo
antiético os pais induzirem os filhos à realização dos seus
sonhos frustrados e não deixá-los descobrir o seu próprio caminho.
Orientação e persuasão são coisas opostas.
O melhor do tempo
esconde longe e muito longe [...] bonde dos Trilhos Urbanos vão
passando os anos e eu não te perdi, meu trabalho é te traduzir.
(Caetano Veloso). Fazendo uma analogia com o texto do compositor
baiano; o jovem precisa de tradução ― entendimento. Não é justo
que tenha de optar tão cedo pelo seu futuro e ainda acertar na
escolha. É preciso usar o empirismo e namorar a vida para descobrir
as suas opções de maneira responsável para enfrentar a exigente
sociedade contemporânea. Atração, desejo, namoro, paixão... isso
não deve fazer parte apenas do amor eros, mas do amor universal em
outras escolhas: religião, profissão, modelo de vida, enfim.
Portanto, não é
difícil escolher, o difícil é a liberdade de escolha. Além de
pessoal, o importante é que seja restritamente ética. O
livre-arbítrio é uma questão filosófica e científica com
implicações morais, religiosas e psicológicas. Cada jovem deve ser
predestinado e ter o direito de opção, sem se deixar levar,
seguindo em frente de cabeça erguida, com o olhar no futuro e
convergindo para um ponto de equilíbrio de seu discernimento.
Renato Luiz de Oliveira Ferreira