sexta-feira, 30 de abril de 2021

O MENINO QUE FALAVA COM PEDRAS

― Vovô virou pedra...

― Não... morreu.

― Conversei com ele hoje na beira do rio.

― Conversou nada, moleque.

― Disse que vai ficar ali. Voltou de onde veio.

― Virou pó, besta.

― Pedra, pó, terra... não tem diferença.

― Sabe de nada...

― A diferença é o tamanho.

― Tá querendo me ensinar, moleque?

― Não... o vovô quem me disse.

― Disse nada! Ele está no céu.

― Eu sei...

― Acabou de falar que está no rio.

― Sim. Ele disse que ali é o céu...


Renato Luiz de Oliveira Ferreira

terça-feira, 20 de abril de 2021

FIOS DE ESPERANÇA

A alvorada invade lentamente minha alma

E os raios colorem as flores do meu jardim

O sabiá-laranjeira ecoa sua melodia calma

E o desejo de Gonçalves Dias vive em mim

Brota a bela-manhã lilás, branca e amarela

E a vida tece a esperança de minha janela...

 

Renato Luiz de Oliveira Ferreira

 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

ENCONTRO DE ARADOS

― Olá, tudo bem?

― Sim... Quer o quê?

― Uma esmola...

― Esmola?!

― Estou com fome. Preciso só de um...

― Por que não arruma um emprego?

― Conhece alguém que faria isso por mim?

― Não. Nesta condição é difícil.

― É o que ouço por aí.

― Não devemos dar o peixe, mas...

― Com fome é difícil aprender, e o lago está seco...

― Isso não é problema meu.

― Eu sei. O problema é nosso...

― Nosso?! Por quê?

― Porque preciso saciar a fome, e você...

― Entendi... Por isso que você está assim.

― Sim. Somos vítimas do capitalismo.

― Por que somos vítimas?

― Vítimas em polos opostos...

― Isso é papo de vagabundo.

― Não vivo de especulação financeira.

― Mas eles não estão na miséria.

― Sim, mas provocam a pobreza.

― Não havia pensado nisso...

― Então... Estamos no mesmo barco...

― Não. Tenho emprego, casa e comida.

― Por enquanto...

― Hum... É esperto. Como chegou nesta situação?

― Hoje estou assim, mas ontem era igual a você.

― Jogou as oportunidades fora?

― Não. Apenas o vento mudou de direção.

― Senti até um frio na barriga agora.

― Enquanto for só frio tudo bem. O pior é sentir um vazio...

― Entendi... Vou ajudá-lo! Sabe por quê?

― Porque tem piedade...

― Não... É que até conhecê-lo eu era mais pobre que você...

― Isso não! Tem quase tudo e ainda irá matar minha fome.

― Porém, antes você alimentou o meu paupérrimo espírito.

― Eu apenas abri o coração...

― Posso lhe dar um abraço?

― Mas, neste estado?

― Sim... Somos iguais e estamos na mesma.

― [...]

― Então, podemos começar a mudar o mundo.

― Ótima ideia! Antes vamos saciar a fome para seguirmos em frente...


Renato Luiz de Oliveira Ferreira