Um sábado bonito, em plena primavera, poderia ter sido um
dia comum, mas ganhamos de presente, meus filhos e eu, um convite de uma
“palhaça” chamada Bezina (mãe e esposa) para assistirmos ao espetáculo da
Oficina do Riso, um grupo que faria a sua apresentação após a conclusão do
Curso de Clown (palhaço) sob orientação de Ramon Lemos ― ator-clown,
diretor teatral, psicodramatista e contador de histórias.
O trabalho do grupo teve início no Espaço da Oficina do
Riso onde houve apresentações líricas temperadas com muito humor e
ingenuidade, e que, através da catarse doou de forma cênica: alegria! Uma bela
ação. De maneira natural receberam de volta a reação do público, isto é, o
melhor presente que um palhaço pode ganhar: o sorriso! É a sátira em movimento,
da Grécia à Roma, e ao mundo contemporâneo.
Em seguida, conforme acontece desde a Idade Média, o
grupo foi às ruas. Desta vez às ruas do bairro de Santa Cecília, na
capital paulista. Os palhaços passaram por bares, restaurantes, salões de
beleza, lojas... Sempre cantando, dançando, pulando, abraçando, dando tchau.
Foi um momento de rara beleza numa cidade que está precisando de mais alegria e
de menos rancor.
O momento mais emocionante da festa ocorreu na Praça
Rotary. Eu e outras pessoas, inclusive meus filhos, Leila, Renato e Luan,
estávamos tirando fotos do grupo. Eu já estava contagiado com a alegria daquela
gente bonita. Pensei... como é maravilhoso saber que é possível transformar o mundo
através do riso e da felicidade.
Após tirar algumas fotos fui chamado por um senhor de
cabelos brancos, que usava óculos, vestia uma camisa cinza e uma calça preta.
Ele acenou para mim várias vezes. Aproximei-me dele e tivemos o seguinte
diálogo:
― Quem
são eles? ― perguntou o senhor com uma cara curiosa.
―
Eles fazem parte da Oficina do Riso! ― respondi com um sorriso no rosto.
― O
que eles estão fazendo? ― voltou a perguntar o homem, mas de forma agitada.
―
Eles estão levando alegria para as pessoas.
―
Alegria?! ― falou indignado após ouvir a
minha resposta.
―
Sim. Alegria. O que o senhor acha?
―
Não concordo! Eu não quero! Por que eles não levam alegria para Bolsonaro e
Haddad? Quero ver! ― o homem expressava muita raiva e indignação no olhar. Em seguida
respondi:
―
Eles são maiores que os políticos. O mundo está precisando de menos ódio,
violência, intolerância e de mais alegria, paz e amor. A vida é tão curta...
Temos de aproveitá-la enquanto ainda estamos aqui. O riso é a expressão do
estado de espírito humano ao encontrar a felicidade em um curto espaço de
tempo. É a comemoração de nossa existência.
Após ouvir as minhas palavras o homem baixou um pouco a
cabeça e ficou pensativo por alguns instantes... Eu continuei tirando fotos do
grupo. Em seguida, comentei o fato com o meu filho, Renato. Ele me abraçou e
disse que eu dera uma ótima resposta; que iria provocar uma reflexão naquele
homem e, que expressar a nossa opinião dessa forma traz um resultado eficaz.
Ele concluiu dizendo que tal fato o fez lembrar da música “A Banda”, de Chico
Buarque. Em seguida cantou: “Estava à toa na vida o meu amor me chamou, pra ver
a banda passar cantando coisas de amor”. Continuamos a caminhada....
Um pouco mais a frente notei que algo incrível ocorreu
― segundos após o meu filho cantarolar a música de Chico ―, o homem
começou a acompanhar o grupo. O rosto dele agora transmitia
felicidade. Ele abraçava, sorria, conversava e caminhava pelas ruas com os
palhaços. Neste momento a emoção tomou conta de mim... Meus olhos lacrimejavam
porque acabara de ver o riso transformar a repulsa em esperança. Comecei a
pular de alegria com os palhaços e cantarolei ao lado deles a música de Chico
Buarque, agora adaptada àquele momento:
[...] Estava à toa na
vida
O meu amor me chamou,
Pra ver a “Oficina do Riso” passar
Cantando coisas de amor.
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor,
Pra ver a “Oficina do Riso” passar
Cantando coisas de amor...
A imagem do homem acompanhando o grupo está registrada em
fotos, mas o melhor é que o fato está eternizado através da narrativa da
história. Por isso nunca devemos perder a esperança de um mundo melhor, mais
amoroso. “O amor só é válido quando há permissão das partes para vivê-lo como
um todo ― intensamente ―, sem pensar no amanhã, mas apenas senti-lo a cada
instante, na forma mais pura possível.” (Renato Ferreira). Por isso esta
história fez tão bem pra mim; quem quiser que conte outra assim.
Renato
Luiz de Oliveira Ferreira