domingo, 23 de dezembro de 2012

ALEGORIA REBUSCADA

Ao Dicionário Aurélio e a “Joãosinho” Trinta
 

SALVADOR
1988


RESUMO

O objetivo deste trabalho, em homenagem ao Dicionário Aurélio e ao carnavalesco “Joãosinho”1 Trinta, é proporcionar ao ledor, além da reflexão sobre o tema, o enriquecimento do seu vocabulário. Hoje não há mais a necessidade de utilização de escritas com esmero excessivo; a clareza textual é importante para a facilidade da comunicação. Neste caso, a linguagem rebuscada é proposital para que o leitor procure um dicionário e saiba o significado de cada palavra. Sabe-se que poucos têm acesso a um léxico. Para não haver desânimo durante a leitura, nas páginas seguintes à poesia, consta o significado de cada vocábulo na ordem em que estão escritos para uma melhor compreensão dos termos utilizados.

NOTA: este trabalho foi escrito antes da Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa que entrou em vigor em 1º de Janeiro de 2009, portanto, foram utilizadas as Normas Gramaticais da época.
 

O Autor
1 O correto seria escrever Joãozinho em vez de “Joãosinho”. Na língua portuguesa o sufixo diminutivo de João é “zinho”, porém, o carnavalesco escreve com “s” por opção. No caso do texto, foi respeitada a maneira excêntrica da escrita do nome do alegorista citado.

Alegoria Rebuscada

Antojar a aldebarã ao alegorista,
Belvedere bem brilhante surgirá,
Com calicromo, sem caligem e teísta.
Dealbação à diva, um desvario fã será.
Em cada rosto embriagado de beleza,
Fabulosas faíscas irradiarão energia.
Gazéis surgirão dos filóginos, uma proeza.
Homéridas inspirados, honrados e sem elegia,
Invadirão a passarela com iconolatria salutar.
Jactos de esperança e alegria, lado a lado;
Lágrimas combinando à fantasia e ao altar.
Magno e airoso “Joãosinho” Trinta, iluminado,
Nos braços da déia, nos brindará com o néctar:
O carnaval, as crianças, a vida e o Aurélio! É lei.
Porém, não esquecerá a grande diva real provecta.
Quando a pânria luz do alvorecer chegar, eu sei,
Reinarão os heliólatras com o seu ídolo cardeal.
Sobre a casta, um banho luzente do astro rei, meu Senhor!
Toscar o verdear é um toste à vida; é ser simples e leal,
Uma utopia com frase palíndroma: Roma é amor!
Vicejará, pois, na noite e no dia, vida nova: uma alforria!
Xurdir, sonhar, é a nossa obrigação, Mecenas. Duvidas do autor?
Zelar, perdoar, é com o Criador, da mais linda alegoria: a vida. Ria!

SIGNIFICADO DAS PALAVRAS DO TEXTO 

01. Alegoria: exposição de um pensamento sob forma figurada; ficção que representa um objeto para dar idéia de outro; continuação de metáforas que significam uma coisa nas palavras e outra no sentido.
02. Alegorista: pessoa que faz alegorias ou por elas explica escritos de outrem.
03. Rebuscado: apurado com esmero excessivo; requintado.
04. Antojar: pôr diante dos olhos; figurar; representar na imaginação.
05. Aldebarã: estrela de primeira grandeza. Pertence à constelação de touro.
06. Alegorista: que usa de estilo alegórico.
07. Belvedere: pequeno mirante; terraço alto de onde se descortina um vasto panorama.
08. Calicromo: que tem cores belas.
09. Caligem: escuridão.
10. Teísta: pessoa partidária do teísmo.
11. Teísmo: doutrina religiosa que admite a existência de Deus e sua ação providencial no universo.
12. Dealbação: purificação.
13. Diva: mulher formosa.
14. Desvario: ato de loucura, delírio.
15. Gazel: poesia amorosa ou báquica dos persas e dos árabes. Compõe-se de vários dísticos; os versos do primeiro rimam entre si e com o segundo verso de cada um dos outros.
16. Báquica: relativo ao deus do vinho (Baco) ou ao vinho; orgíaco.
17. Dístico: grupo de dois versos.
18. Filógino: apaixonado por mulheres.
19. Proeza: ação de valor, façanha, escândalo.
20. Homérida: rapsodo (cantor popular de rapsódias) que cantava os poemas de Homero; imitador de Homero, o maior dos poetas gregos.
21. Rapsódia: fragmentos de cantos épicos, entre os gregos, cada um dos livros de Homero; trecho de uma composição poética; composição musical formada de diversos cantos tradicionais ou populares de um país.
22. Elegia: poesia consagrada à tristeza.
23. Iconolatria: adoração das imagens.
24. Salutar: bom para a saúde, fortificante, moralizador.
25. Jacto: impulso.
26. Magno: grande, importante.
27. Airoso: belo.
28. “Joãosinho” Trinta: carnavalesco e alegorista. 
29. Déia: deusa.
30. Néctar: bebida dos deuses; bebida deliciosa; secreção adocicada; principal substância com que as abelhas produzem o seu mel.
31. Aurélio: o Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
32. Provecto: muito sabedor, que tem progredido.
33. Pânria: preguiçosa.
34. Alvorecer: amanhecer.
35. Heliólatra: adorador do sol.
36. Cardeal: principal, fundamental.
37. Casta: raça, geração, natureza.
38. Luzente: luminoso.
39. Toscar: avistar, ver, entender.
40. Verdear: os campos verdes depois das secas.
41. Toste: saudação ou brinde, num banquete.
42. Leal: sincero, franco e honesto.
43. Utopia: fantasia.
44. Palíndromo: diz-se de, ou frase que tem o mesmo sentido quer se leia da esquerda para a direita, quer da direita para a esquerda. Ex: Amor é Roma.
45. Vicejará: brotará exuberantemente.
46. Alforria: libertação.
47. Xurdir: lutar pela vida.
48. Mecenas: protetor das letras e dos sábios. 

Renato Luiz de Oliveira Ferreira

REFERÊNCIA:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11ºEdição, Gamma, 1985.

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