domingo, 23 de dezembro de 2012

Elegia Sertaneja

Cachaça no peito quema,
amô martela e dói suave.
Só quem já sentiu tal efeito,
cê sabe, o que eu sinto é grave.
Ela é bela e chera a fulô,
eu sou poeta e cantadô.
Do meu coração ela é a chave.

Tem mais de meis que fugiu,
com Zé, fio de Nhô Bento,
um home dono de gado.
Dexô só seu chero ao vento.
Correu, a mulé vã, ispura.
Trair é crime, injura!
Que farta de sentimento.

Mais há de senti sodade,
bem antes de minha morte!
Eu não vô fazê vingança,
eu sô caboco bem forte.
Eu vô insperá vortá,
no dia, eu vô ri e chorá...
Fazê cantoria no norte.

Ah! Vorta doce acalanto...
Vem cá, não isqueço d’ocê.
Meu chero, paz e alegria.
Amô, simbora por quê?
Eu quero rasgá sua seda,
fazê loa e amô na vereda,
ao sol pô, fulô de ipê.

"Acorda João!" "Levanta..."
Meu pai grita! Mãe, só improra...
Meu peito vazio adurmece,
mais fico contano a hora.
Cumeço a chorá, bebê...
Quiçá seja o meu prazê
dispois que bem foi simbora.

Amigo, eu tenho insperança!
É noite, eu vô só sonhá,
fulô do meu bem querê...
Agora a viola a tocá,
canção: luá do sertão...
O mote: elegia, afrição.
Ah, dô de amô de matá!
Renato Luiz de Oliveira Ferreira

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